O último escândalo do Lacerda.
Do Pragmatismo Político.
Fernando Morais: "Um jingle me envergonhou em Belo Horizonte"
Ao desembarcar no aeroporto da Pampulha, na semana passada, fui
recebido com o abraço de um velho amigo mineiro. "Seja bem-vindo", disse
ele. "Que bom que você está de volta a Belo Horizonte." Respondi que
ninguém pode voltar a um lugar de onde nunca saiu. Parece um clichê, eu
sei, uma frase retórica, mas é verdade. Nascido em Mariana, vivi na
capital mineira até os 18 anos, quando me mudei para São Paulo.
Um pedaço da minha alma, porém, ficou em Beagá, onde passei provavelmente os melhores anos da minha vida. A caminho do hotel, ouvi no rádio do carro o jingle da campanha eleitoral do prefeito Márcio Lacerda, candidato à reeleição. A repetição musical do slogan "deixa o Márcio trabalhar" me deu a sensação de déjà-vu – ou déjà ouvi, para ser mais preciso. Seria capaz de jurar que já tinha ouvido aquela mesma musiquinha no rádio meses antes, quando estive na cidade para lançar um novo livro. Para meu espanto, o amigo que me recebia explicou que não, eu não estava ficando louco. Adquirida pela prefeitura (com dinheiro público, naturalmente) e transformada em jingle oficial da administração, a música Não há lugar melhor que BH, da dupla César Menotti e Fabiano, foi martelada durante quatro anos na cabeça dos belo-horizontinos.
A íntegra.