Bancos são a essência do capitalismo, o dinheiro aumentando sem que o dono precise trabalhar. Greve de bancários revela essa essência: os bancos nunca ganharam tanto, mas não admitem conceder aumento nos salários, no máximo repor a inflação. É que eles ficam cada vez mais ricos justamente porque concentram a renda. Se dividissem o lucro, não seriam capitalistas.
Será que a "grande" imprensa vai expor esse ponto de vista ou pelo menos noticiar a greve com imparcialidade?
Bancários já foram uma categoria importante e até ganhavam bem. Parar os bancos significava parar o sistema. Não significa mais. Os banqueiros substituíram grande parte dos trabalhadores por computadores e colocaram os próprios clientes para fazer o serviço nos "caixas automáticos". Diminuíram custos e passaram a lucrar mais. O mesmo aconteceu na indústria automobilística (que foi tão importante um dia que gerou Lula) e em outros negócios, todos automatizados. Não se diz, no entanto, que o objetivo da automatização é aumentar o lucro: novas tecnologias são anunciadas como "progresso", "desenvolvimento", que aumentam "a produtividade" e "a competitividade da economia brasileira".
Como mostra o Sakamoto, a realidade pode ser vista de várias formas. O capital tem toda a imprensa a seu serviço para contar a sua versão dos fatos, repeti-la incessantemente e conquistar a opinião pública (o restante dos trabalhadores) contra os bancários (uma categoria de trabalhadores).
É assim o tempo todo e de forma aguda nas greves: quando os professores fazem greve, o governo usa a "grande" imprensa para jogar os pais contra os grevistas; quando motoristas e cobradores fazem greve, os usuários de transporte coletivo são usados para confrontar os grevistas. E assim vai. Os trabalhadores estão sempre errados, são radicais, prejudicam a população. Os patrões nunca são "radicais" nem "intolerantes", o lucro dos empresários nunca é questionado -- o lucro é um direito sagrado; se a margem diminuir, o empresário o repassa ao preço do seu produto, e isso é considerado "normal", "faz parte do sistema", não pode ser diferente.
Assim se justifica que "aumento de salário produz inflação", o "custo Brasil" diminui a competitividade etc. e tal. Até mesmo distribuir renda como fez o governo Lula, com programas sociais, é visto como um atentado ao bom funcionamento do sistema, pois "produz vagabundos". Alguns reais todo mês produzem trabalhadores vagabundos, mas milhões de reais em incentivos fiscais e empréstimos subsidiados do BNDES não produzem empresários vagabundos...
A ideologia mantém o sistema e os veículos de comunicação de massa são seu grande instrumento. Especialmente no Brasil, não temos cultura de solidariedade nem de organização dos trabalhadores de forma a entender que a greve de uma categoria é contra seus patrões e contra o governo, não contra os demais trabalhadores.
Do Blog do Sakamoto.
Greve dos bancários: os dircursos que demonizam a luta por direitos
Leonardo Sakamoto
"Greve é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que já foi muito incomodada pela onda de greves dos funcionários públicos e não merece ser mais incomodada com uma paralisação dos bancários."
A declaração acima é de Magnus Ribas Apostólico, diretor de Relações do Trabalho da Fenaban, braço sindical da Federação Brasileiros de Bancos responsável pelas questões de disputas trabalhistas.
Posso reescrever o parágrafo com a visão do outro lado?
"Greve é ruim para todo mundo: é ruim para o bancário, é ruim para o banco, é ruim para a população, que já foi muito incomodada pela incapacidade do governo federal em negociar com os funcionários públicos em greve e não merece ser mais incomodada com uma negativa dos banqueiros em dividir melhor os lucros e garantir condições de trabalho."
Quando negociações trabalhistas chegam a um limite e uma greve é deflagrada, começa uma guerra de discursos, o que é esperado. E interessante. Afinal de contas, aprendemos novas formas de moldar a língua portuguesa para servir aos nossos interesses.
A íntegra.
Do blog Escrevinhador.
Com lucro recorde, bancos oferecem só 1% de ganho real para os trabalhadores
Bancários de vários estados brasileiros entraram em greve nesta terça-feira. A paralisação vem depois de várias rodadas de negociações infrutíferas. De acordo com balanço do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, 20 mil bancários paralisaram suas atividades hoje na Grande São Paulo.
Na pauta, estão o aumento salarial, maior participação nos lucros e melhorias nas condições de trabalho. Os bancários reivindicam reajuste de 10,25%, mas a federação dos bancos oferece apenas 6%, frente a uma inflação de 5,39%. Os bancários também reivindicam aumento nos vales alimentação e refeição, alegando a alta inflação no preço dos alimentos.
A greve dos bancários vem em um momento delicado para os bancos. No início do ano, os maiores instituições financeiras anunciaram lucros recordes em 2011 e mesmo assim se mostraram resistentes à política do governo de redução dos juros. Ao final, o governo forçou a redução por meio dos bancos públicos. Entretanto, o governo ainda luta para conseguir reduzir o spread bancário, ou seja, a diferença entre as taxas de juros cobradas pelos bancos aos clientes e o real custo delas.
A íntegra.