Da Carta Capital.
Dilma começa a acordar
Leandro Fortes
Expor FHC ao ridículo e, ao mesmo tempo, incensá-lo com longos textos
laudatórios faz parte de um paradoxo recorrente na imprensa brasileira,
também descolada cada vez mais de um artigo de luxo: o jornalismo. A
capa da Veja com Marcos Valério de Souza, vermelho como um pobre diabo, a
acusar Lula é mais um movimento desesperado para interditar o
ex-presidente, justamente quando ele trabalha para eleger candidatos do
PT Brasil afora. O texto, baseado em frases atribuídas a Valério, ainda
que viesse mesmo da boca do publicitário mineiro, é parte de mais um
rito dessa polca golpista entoada por uma estrutura de comunicação
viciada e moribunda.
O mais curioso, no entanto, é a revelação feita pela Folha de S.Paulo
sobre os gastos oficiais de publicidade federal com essa mídia tão
liberal e amante da livre iniciativa: as Organizações Globo ficam com um
terço de todo o dinheiro do tesouro nacional disponível para
propaganda; as dez maiores empresas do ramo, com 70%. Ou seja, são
financiados para fazer panfletagem política de quinta categoria.
Sem essas tetas generosas do governo ao qual achincalham por
encomenda, todas essas portentosas instituições da imprensa nacional e
seus zelosos colunistas, estes, lacrimosos paladinos da liberdade da
expressão e do livre mercado, iriam à bancarrota. Todas, sem exceção.
Na semana passada, Dilma cancelou de última hora a presença em um
evento da revista Exame, a quinzenal de economia da Editora Abril, em
São Paulo. Alegou "motivos familiares", mas já havia sido avisada da
patranha da Veja. Mandou o ministro Guido Mantega, da Fazenda, em seu
lugar. No meio do evento, Mantega se levantou e foi embora. No mesmo
dia, instigada pelos donos, a cachorrada hidrofóbica instalada no esgoto
da blogosfera se autoflagelou, histérica.
Já é um começo.
A íntegra.