terça-feira, 25 de setembro de 2012

O jornalista Vladimir Herzog morreu em consequência de torturas no DOI-Codi

Esta notícia levou 37 anos para ser dada. Só agora, por determinação judicial, a pedido da Comissão da Verdade, o atestado de óbito do jornalista torturado até a morte em dependências do II Exército, em São Paulo, em outubro de 1975, pode finalmente conter informações corretas. Num país em que a imprensa mente e distorce informações sistematicamente, juizes mandam prender o presidente da Google por crime de "liberdade de expressão" e escolhem os políticos que serão punidos por corrupção; num país em que torturadores e assassinos foram sustentados por empresários, acobertados por jornais e televisões e, mais tarde, protegidos pela anistia, emociona ler uma notícia em que todos -- Estado, juiz e imprensa -- estão do lado certo e a verdade prevalece, de forma incontestável. Ainda que 37 anos depois.

Da Agência Brasil, 25/9/12.
Atestado de óbito de Herzog dirá que ele morreu por maus-tratos
Renata Giraldi
Brasília - O juiz Márcio Martins Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), determinou ontem (24/9/12) a retificação do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog, que morreu em 1975 na capital paulista. O atestado, emitido no período da ditadura, indicava que sua morte foi consequência de suicídio. Porém, por ordem da Justiça o atestado de óbito informará que a morte dele foi causada por maus-tratos.
O juiz determinou que, a partir de agora, passe a constar no documento a seguinte informação: "A morte [de Herzog] decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do 2º Exército – SP (DOI-Codi)". O DOI-Codi era a sigla conhecida do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna subordinado ao Exército, que atuava como órgão de inteligência e repressão do governo.
A retificação foi um pedido da Comissão Nacional da Verdade, representada pelo coordenador, ministro Gilson Dipp. A solicitação foi encaminhada a pedido da viúva Clarice Herzog. Na decisão, o juiz Bonillha Filho elogiou a atuação da comissão.
"[A comissão] conta com respaldo legal para exercer diversos poderes administrativos e praticar atos compatíveis com suas atribuições legais, entre as quais recomendações de 'adoção de medidas destinadas à efetiva reconciliação nacional, promovendo a reconstrução da história'", disse o magistrado na sua decisão.
Nascido na Croácia, Vlado Herzog passou a assinar Vladimir por considerar seu nome exótico. Naturalizado brasileiro, ele se tornou um dos destaques do movimento pela restauração da democracia no Brasil, depois do golpe militar de 1964. Era militante do Partido Comunista e sofreu torturas em São Paulo.
Em 25 de outubro, Vladimir foi encontrado morto. Segundo informações fornecidas na época, o jornalista foi localizado enforcado com o cinto que usava. Porém, a família e os amigos jamais aceitaram essa versão sobre a morte dele. Nas fotos divulgadas, o jornalista estava com as pernas dobradas e no pescoço havia duas marcas de enforcamento, indicando estrangulamento. No período da ditadura, eram comuns as versões de morte associadas a suicídio.