O atual julgamento do chamado "mensalão" não existiria sem a atuação política dos "grandes" veículos de comunicação, transformados em partido de oposição ao governo Lula. O STF é um instrumento político da direita, assim com a velha imprensa: não estão acima da luta de classes, servem aos interesses dos capitalistas contra os trabalhadores. A corrupção faz parte do sistema capitalista e da democracia liberal burguesa, é por meio dela que os capitalistas dominam o Estado, que compram políticos e funcionários; todos os partidos capitalistas usaram e usam expedientes que o PT usou e que foi transformado em "mensalão", embora este crime, o de comprar parlamentares para votar com o governo Lula não tenha sido provado nas investigações. Como já se argumentou, que sentido tem comprar deputados para votar a favor de políticas capitalistas que eles aprovariam sem que para isso fosse preciso pagar "por fora"? Se fossem políticas socialistas, revolucionárias, que dessem benefícios extraordinários aos trabalhadores e prejuízos aos capitalistas, mas não houve nada disso... O "mensalão", portanto, é uma ficção, o "crime" foi caixa dois para pagar campanhas eleitorais do PT e dos seus aliados. Isto, porém, é um crime menor, segundo os critérios da direita, pois todos os seus partidos sempre fizeram -- o próprio esquema montado pelo PT foi copiado do PSDB mineiro e o crime tucano foi relevado e até hoje não foi julgado, embora tenha acontecido antes! Era preciso, portanto, criar outro crime -- e inventou-se o "mensalão". Mesmo sem provas, o STF deverá hoje começar a condenar os petistas, começando por José Dirceu. Por que Dirceu? Porque é o político esquerdista mais odiado, depois de Lula, porque era o ministro mais poderoso de Lula e maior dirigente do PT. O alvo dos capitalistas e da sua imprensa nunca é um político, mas os trabalhadores que ele representa. Assim, Getúlio Vargas foi um ditador, mas a direita não se importava com isso até que ele passou a se sustentar no voto dos trabalhadores e no apoido dos sindicatos e do PTB, o partido trabalhista pré-golpe de 1964. Condenado Dirceu, tentarão atingir Lula, como já avisaram neste fim de semana Veja e os colunistas pautados por ela. É uma luta política, na qual a velha imprensa assumiu papel de ponta de lança da direita -- até mesmo os tucanos e o DEM estão a reboque dessa gente. O que Veja e seus seguidores fazem não é jornalismo há muito tempo. Também não significa que represente todos os capitalistas -- uma parte dos empresários foi cooptada pelo PT com seu novo desenvolvimentismo e as obras do PAC. O que não significa que esses empresários ajudem a defender Lula e o PT: JK foi o inventor do desenvolvimentismo e o político ideal para o capital, mas foi cassado pela ditadura assim mesmo e os empresários não sairam em sua defesa: eles estavam muito ocupados ajudando a financiar os órgãos de tortura e assassinato dos militares. O que o PT fez foi neutralizar parte do empresariado, articulação na qual o falecido vice-presidente José Alencar, um grande empresário, teve papel decisivo. Nada disso é novo nem surpreendente para o PT e Lula, que em 2002 decidiram entrar nesse jogo de cartas marcadas. Em 2005, Lula resistiu: cedeu, afastando Dirceu e outros, mas ameaçou convocar o povo para lutar. E a direita recuou da intenção de fazer seu impeachment. Agora que Lula não é mais presidente, a direita tenta golpeá-lo para que não volte e para que o PT se torne tão fraco que, além de perder as eleições municipais deste ano, não reeleja Dilma -- ou faça dela uma ex-petista, uma neoliberal, refém do apoio da direita, como demonstra a capa de Veja de um mês atrás, quando anunciou "O choque capitalista da Dilma" e seu apoio a ele. Apesar da trombeta da direita tocar incessantemente, em 2006 e 2010, a maioria da população ignorou-a -- ou soube distinguir os dois lados -- e escolheu manter o apoio a Lula e ao PT. Agora, no segundo tempo desse jogo infindável, com o julgamento do "mensalão" pelo STF, transformado em verdadeiro Supremo Tribunal Militar, como nos tempos da ditadura, e mais duro do que o original, parece que a opinião pública está mais sensível à ladainha da velha imprensa, o que configura uma novidade na política nacional, pois nunca ela tinha conseguido convencer a maioria -- basta lembrar da reação popular ao suicídio de Getúlio Vargas, quando foram destruídas oficinas dos jornais mais reacionários. Ou talvez não, talvez a novidade conjuntural seja só o silêncio da maioria, indiferente ao julgamento, afinal não é Lula que está sendo julgado. O fato político de fundo é a afirmação da velha imprensa como o verdadeiro partido da direita, como aconteceu na Venezuela há dez anos, levando inclusive ao golpe contra o presidente Hugo Chávez, inicialmente vitorioso e depois derrotado. Até onde ela levará é a questão. A condenação dos petistas pelo STF neste momento será um forte apoio a esta direita, assim como a não investigação contra Veja no caso Cachoeira e o não julgamento dos tucanos do esquema Marcos Valério (como observou um blogueiro, é mais fácil incriminar um político de direita do que um jornalista idem, como se vê na confrontação dos casos DEMóstenes e Policarpo; políticos não apenas não descartáveis como são fazem parte do bloco subalterno da organização, cuja cúpula está na velha imprensa). Aparentemente, uma grande parcela da população teoricamente bem informada continua sendo manipulada por Veja e seus seguidores e transformada numa massa eleitoral direitista, fato que as pesquisas de intenção de voto nas eleições municipais de outubro indicam. Este artigo do Luís Nassif discute a extensão dessa nova direita protofascista.
Do blog Luís Nassif Online.
Os caminhos do radicalismo pós-Serra
Por Luís Nassif
Há dois marcos na nova etapa da jogo político brasileiro: o fim político de José Serra e o novo protagonismo político do STF (Supremo Tribunal Federal).
Vamos analisar algumas variáveis que serão determinantes do novo tempo político.
A luta pela civilidade política ainda tem um longuíssimo caminho pela frente.
1. A radicalização exacerbada não desaparece com Serra.
A ultradireita que emergiu no país nos últimos anos não se organizou em torno de Serra. Ele foi apenas o oportunista que pretendeu cavalgar a onda – como tantas outras que cavalgou, antes, como a do desenvolvimentismo, da socialdemocracia, sem nunca empunhar de fato a bandeira. Hoje está claro, mesmo para quem conviveu a vida toda com ele, que jamais passou de um arrivista.
Como explico na abertura da série "O caso de Veja", o ódio como arma política começou como um sentimento algo difuso, que ganhou eco na agressividade de alguns comentaristas de televisão – imitando o estilo da Fox norte-americana. O episódio do "mensalão" serviu como agente deflagrador da intolerância, assim como a perspectiva da velha mídia de derrubar mais um presidente e retornar aos tempos de glória do pós-impeachment.
Apesar do gatilho ter sido o "mensalão", é algo muito mais orgânico, cuja raiz (em termos globais) está na ascensão das novas massas, no fim do sonho neoliberal, no protagonismo da mídia na era Murdoch.
A íntegra.