domingo, 2 de setembro de 2012

Talvez a Libertadores

Em 2012 o Galo não vai ser campeão brasileiro outra vez e o mundo não vai acabar. Talvez consiga uma vaga na Libertadores, mas quando começa a descer a ladeira não se sabe onde vai parar. A única certeza é que não vai ser rebaixado, porque já fez no primeiro turno praticamente o mesmo número de pontos do campeonato de 2011 inteiro.
Um título não se ganha em um jogo, a derrota de hoje não foi decisiva, mesmo porque o Galo continua na liderança, embora empatado em pontos com o Fluminense, mas tem uma vitória a mais. O jogo contra o Cruzeiro também não foi decisivo, embora tenha sofrido o gol de empate nos acréscimos, depois de uma falta não marcada pelo juiz. Apesar do empate, o Galo saiu daquele jogo por cima, porque Ronaldinho fez um golaço e jogou tendo toda a torcida contra si, por causa dessa estupidez que é o jogo de torcida única.
O empate contra o Cruzeiro ficou ruim depois, quando o Atlético empatou de novo com a Ponte Preta. Se tivesse vencido o Cruzeiro, o empate com a Ponte não seria péssimo; se tivesse vencido a Ponte, o empate com o Cruzeiro não teria sido ruim. Ruim foi empatar os dois jogos seguidos. Ainda assim não teria sido completamente mau, se tivesse vencido o Corinthians hoje. Ruim é a sequência sem vitórias.
Alguns jogos são emblemáticos e o de hoje foi. Embora continue na liderança, esta é uma situação ilusória, que se deve aos resultados excepcionais alcançados antes. O Galo está descendo a ladeira aceleradamente. Em seis jogos, ganhou só dois, empatou três e perdeu um; conquistou 9 pontos de 18. Não é índice de time campeão, não é índice que se atinja impunemente.
Os sintomas que cerca a queda confirmam sua gravidade: Bernard não é nem sombra do que vinha sendo -- e era ele que fazia a diferença, tanto ou mais que Ronaldinho; Jô não compensou a queda de Bernard, ao contrário, perdeu gol feito e foi substituído; Guilherme e Neto Berola também não compensaram a queda dos outros; a zaga, mais eficiente no ataque do que na defesa, protagonizou algumas cenas grotescas; o medíocre lateral Jùnior César perdeu a cabeça e foi expulso, num lance típico de quem já aceitou a derrota; para completar, as velhas desculpas de arbitragem e análises do jogo pelo treinador que não batem com o que os torcedores viram já começaram.
Juiz que rouba para o Corinthians e para o Flamengo, ou outros times paulistas e cariocas, não é novidade; qualquer time de outra cidade que quer ser campeão sabe que tem de derrotar também juiz, bandeirinhas e CBF. Quando a má arbitragem consegue tirar o time do eixo, e, pior, treinador e presidente não têm equilíbrio reequilibrar o time, em vez disso se aproveitam da situação para esconder defeitos e falsear a verdade, é sinal de que a coisa vai mal.
Ronaldinho está fazendo a diferença porque joga em um time equilibrado; se a regularidade cair, como já caiu, ele cairá junto, e quando isso acontecer -- ainda não aconteceu -- a coisa vai ficar feia de verdade, a cizânia se instalará e as vozes que consideram sua contratação uma loucura voltarão a falar alto.
Eu fui um que achou que o Kalil tinha enlouquecido, mas dei a mão à palmatória e acho que, de qualquer forma, valeu: nós, atleticanos, não tínhamos tanta alegria há muitos anos. Há mais de uma década não víamos um craque atuando com a camissa do clube -- e de repente vimos dois, porque junto com Ronaldinho veio Bernard.
No entanto, o sonho acabou hoje. O jogo contra o Corinthians foi emblemático: depois de empatar com o Cruzeiro e com a Ponte, o Galo tinha de vencer o atual campeão brasileiro no seu campo. É lógico: o campeão deste ano precisa ser melhor do que o campeão do ano passado, que neste campeonato sequer disputa o título. Mais que isso: o campeão se impõe nesses momentos, o próprio Corinthians demonstrou isso em 2011 e novamente este ano, na Libertadores. E o Galo, infelizmente, demonstrou hoje, mais uma vez, não tem jeito de campeão.
Gostaria de estar enganado, mas não quero me iludir. A não ser que esse time volte a nos surpreender e enfie uma sequência de cinco vitórias seguidas, a não ser que volte ao índice de aproveitamento superior a 80%, para ganhar confiança outra vez, o título já está perdido. Está em aberto, para Fluminense ou Grêmio, mais equilibrados, ou, difícil mas não impossível, algum outro que suba a ladeira na hora certa.