Do saite da Escola Nacional de Saúde Pública.
Política econômica sustenta expansão do agronegócio e dos agrotóxicos, afirma economista
"Estamos vivendo o pacto das elites da economia política com o Executivo, o Legislativo, a Mídia, a Ciência e a Justiça. Um pacto que não pensa na vida, mas no capital." Assim, o palestrante Fernando Carneiro, do Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), abriu sua apresentação (no Seminário de Enfrentamento aos Impactos dos Agrotóxicos na Saúde Humana e no Ambiente). Carneiro pontuou sete lições que podem ser apreendidas das discussões e artigos produzidos pela Abrasco.
A primeira é que a relação agrotóxicos-saúde deve ser estudada no contexto da modernização agrícola conservadora. "Somos um celeiro do mundo, mas os donos das sementes no Brasil são os grupos internacionais." Outra questão necessária e urgente é o desocultamento dos agravos da saúde relacionado aos agrotóxicos, e, portanto, a maior relevância à caracterização dos riscos. A terceira lição é a significativa eficácia do Estado no apoio ao agronegócio e sua expansão. "São R$ 107 bilhões para o novo plano agrícola e agropecuário", disse ele, e perguntou: "Quanto a saúde recebe para fiscalizar essas ações?"
A campanha Agrotóxico mata já foi lançada em 48 cidades, e 173 entidades participam das ações. "Isso demonstra que os setores da sociedade ligados a organizações do meio rural é que vêm desempenhando papel importante nas políticas públicas de combate aos agrotóxicos e em defesa da saúde", assinalou Carneiro como a quarta lição apreendida. A quinta é a importância dos estudos sobre o tema, no sentido de contribuir para a desconstrução dos mitos que sustentam o modelo de Revolução Verde.
Para Carneiro, “a ciência está
diante do desafio de contribuir para a construção do paradigma emergente
fundado no compromisso ético-político com os mais vulneráveis e , por
isso”, disse ele, "a pesquisa também tem de fazer campanha, poesia em
cordel, almanaques instrutivos". E a última lição, concluiu, são as alternativas agroecológicas de vida que as comunidades camponesas vêm construindo no semiárido brasileiro.
Karen Friedrich, pesquisadora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, informou que a ingestão diária aceitável de agrotóxicos nos alimentos é de 7,5mg/kg, mas esse paradigma é rompido pelos carcinógenos genotóxicos presentes no defensivo agrícola, para os quais não existe limite seguro. Segundo Karen, estudos recentes têm comprovado que a exposição humana a baixas doses de agrotóxicos causa desregulação endócrina e imunotoxidade.
A desregulação endócrina gera efeitos como alterações nas funções hormonais, responsáveis pelos processos neurocomportamentais, reprodutivos, nas funções cardiovasculares, renais, intestinais, neurológicas e imunológicas. No caso da imunotoxidade, disse ela, representa diminuição da fertilidade, desregulação da produção de hormônios sexuais masculinos e femininos, tireoide, abortos e alterações dos órgãos sexuais.A íntegra.