domingo, 24 de junho de 2012

Como o governo dos EUA manipula a imprensa

Do blog Vi o mundo.
El Pulpo trocou de nome, mas continua atacando
por Luiz Carlos Azenha 
Quem quer que tenha conhecimento mínimo da política externa dos Estados Unidos sabe qual é o peso, na América Latina, de "la Embajada". Não é preciso nem identificar a qual embaixada nos referimos. O presidente do Equador, Rafael Correia, costuma repetir a piada segundo a qual só nos Estados Unidos o presidente não corre o risco de tomar um golpe: não existe embaixada norte-americana em Washington.
Estou lendo Bananas, de Peter Chapman, sobre "como a United Fruit Company desenhou o mundo". United Fruit, ou El Pulpo, como era conhecida na região, O Polvo. Aliás, foi a empresa que inventou a fruta como commodity. Inventou também o conceito de república das bananas, que a opinião pública conhece de forma distorcida: não haveria república das bananas se uma empresa, com apoio de Washington, não fosse capaz de derrubar e 'eleger' governos e interferir de forma tão dramática na História das Américas. Ou seja, o tom depreciativo com o qual se aplica o termo tem que necessariamente identificar quem é que tanto fez para transformar repúblicas em caricaturas.
Sabemos muito pouco sobre o incidente que originou o pedido de impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo. O jornalista Idilio Grimaldi escreveu um artigo dizendo achar inverossímil que um grupo de elite da polícia do Paraguai tenha caído numa emboscada de camponeses. Nunca se sabe.
Eu sempre desconfiei de grupos de luta armada que surgem assim do nada, como o EPP, o Ejercito del Pueblo Paraguayo — até agora, pelo menos, não relacionado ao incidente que resultou na cassação do presidente do Paraguai. Pode haver militantes sinceros envolvidos no EPP, mas muitas vezes estes grupos podem se tornar veículos de interesses não identificados. Quando recebi um convite para visitar o EPP, no Paraguai, de um colega jornalista brasileiro, disse não ter interesse: eu não vou ajudar a promover estes caras, argumentei, não sei e não serei capaz de descobrir a quem eles servem antes da reportagem ir ao ar. Se não houver deadline, tudo bem, mas não aceito ser usado.
O EPP serve, por exemplo, mesmo que não queira, ao esforço para aprovar leis antiterroristas na região, promovidas pelos Estados Unidos e que também se encaixam em tentativas de criminalizar os movimentos sociais.
Já narrei no saite antigo, que não está mais no ar, uma experiência que tive no Panamá, durante a crise que antecedeu a invasão dos Estados Unidos. Fomos chamados, jornalistas estrangeiros, para uma entrevista coletiva na base militar dos Estados Unidos no canal do Panamá — que já não existe. Um oficial norte-americano assumiu o podium e deu várias informações, uma delas dizendo que Fidel Castro tinha enviado alguns milhares de fuzis para o ditador panamenho Manuel Noriega, que estava sob pressão de Washington para renunciar.
O militar não apresentou nenhuma prova. Nem foto, nem grampo com áudio. Nada. Como as informações eram em off, ou seja, a fonte não poderia ser identificada, nem havia imagem — e eu trabalhava em TV –, simplesmente descontei a declaração. Porém, levei um susto no dia seguinte quando vi a "informação" na capa do Washington Post, atribuída a uma fonte militar de alto escalão.
Depois da invasão dos Estados Unidos e consequente derrubada de Manuel Noriega, onde é que estavam os fuzis do Fidel Castro? Não houve qualquer reação militar à invasão dos Estados Unidos e ninguém viu ou procurou os fuzis do Fidel. Os milhares de fuzis do Fidel sumiram na névoa. Tinham cumprido seu objetivo.
Há dezenas de incidentes similares registrados na História, como o que aconteceu no Golfo de Tonkin e deu ao presidente Lyndon Johnson autoridade para interferir num conflito que até então envolvia formalmente o Vietnã do Norte e a França (a participação dos Estados Unidos era clandestina).
A íntegra.