Marcos Coimbra analisa a imprensa como quem interpreta números de uma pesquisa da Vox Populi. E escreve cada vez melhor -- a começar pelas aspas em "grande imprensa". Parafraseando-o, o problema de quem se informa com base no "noticiário" dos quatro grupos donos da imprensa brasileira -- Veja, Globo, Folha e Estadão -- é que fica mal informado. "Lula não está desesperado com o julgamento do mensalão. Se Serra for
prefeito de São Paulo, nada vai mudar na eleição de 2014. As pessoas
gostam de Dilma por muitas e variadas razões, o que permite imaginar que
continuarão a admirá-la mesmo se tiverem de adiar a compra de uma
televisão. Pode ser chato para quem não simpatiza com o PT, mas é assim
que as coisas são."
Da CartaCapital.
Três equívocos
A cobertura de nossa "grande imprensa" da atualidade política gira em torno de três equívocos. Por isso, mais confunde que esclarece. Os três decorrem da implicância com que olha o governo Dilma Rousseff, o PT e seus dirigentes. A mesma que tinha em relação a Lula quando era presidente.
Há, nessa mídia, quem ache bonito – e até heroico – ser contra o governo. E quem o hostilize apenas por simpatizar com outros partidos. Imagina-se em uma espécie de cruzada para combater o "lulopetismo", o inimigo que inventaram. Alguns até sinceramente acreditam que têm a missão de erradicá-lo.
Não é estranho que exista em jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio, e nos portais de internet, quem pense assim, pois o mundo está cheio deles. E seria improvável que os empresários que os controlam fossem procurar funcionários entre quem discorda de suas ideias.
Até aí, nada demais. Jornalismo ideológico continua a ser jornalismo. Desde que bem-feito e enquanto preserve a capacidade de compreender o que acontece e informar o público. O problema da "grande imprensa" é que suas antipatias costumam levá-la a equívocos. Como os três de agora. Vejamos:
O desespero de Lula
Pode haver suposição mais sem sentido do que a de que Lula esteja "desesperado" com o julgamento do mensalão?
Ele venceu as três últimas eleições presidenciais, tendo tido na última uma vitória extraordinária. Só ele se proporia um desafio do tamanho de eleger Dilma Rousseff.
Hoje, em qualquer pesquisa sobre a eleição de 2014, atinge mais de 70% das intenções de voto, independentemente dos adversários.
Seu governo é considerado o melhor que o Brasil já teve por quase três quartos do eleitorado, em todos os quesitos: economia, atuação social, política externa, ecologia etc. (sem excluir o combate à corrupção).
O mensalão já aconteceu e foi antes que galvanizasse a imagem que possui. Lula tem, portanto, esse conceito depois de passar pelo escândalo. O ex-presidente não tem nenhuma razão para se importar pessoalmente com o julgamento do mensalão. Muito menos para estar "desesperado".
O que ele parece estar é preocupado com alguns companheiros, pois sabe que existe o risco de que sejam punidos, especialmente se o Supremo Tribunal Federal for pressionado a condená-los. Solidarizar-se com eles – e fazer o possível para evitar injustiças – não revela qualquer "desespero".
A batalha paulista
Não haverá um "enfrentamento decisivo" na eleição para prefeito de São Paulo. Nada vai mudar, a não ser a gestão local, se José Serra, ou Fernando Haddad, ou Gabriel Chalita sair vitorioso.
Como a "grande imprensa" está convencida de que Serra vai ganhar – o que pode ser tudo, menos certo –, a eleição está sendo transformada em um "teste" para Lula, o PT e o governo Dilma. Ou seja, quem "nacionaliza" a disputa é a mídia. Apenas porque acha que Haddad vai perder. Se Serra vencer, o PSDB não aumenta as chances de derrotar Dilma (ou Lula) em 2014. Caso contrário, terá sua merecida aposentadoria.
A íntegra.