Da Agência Carta Maior.
Boaventura critica a economia verde, e Paul Singer exalta a economia solidária
Por Isabel Harari
Cerca de 200 pessoas se aglomeram em cadeiras de plástico, no chão de terra batida e até em uma árvore próxima. A tenda 14 da Cúpula dos Povos foi se enchendo e o calor tornou-se insuportável. Por volta do meio-dia, Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e professor da Universidade de Coimbra, e Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária, sentaram-se à mesa junto a outros dois integrantes do Ripess (Rede Internacional de Promoção da Economia Social e Solidária) da América Latina e Caribe. "Os militantes e revolucionários estão se encontrando, com seus ideais, angústias e medos", disse Singer, apontando para a plateia.
A economia solidária como proposta de resistência ao modelo vigente foi o fio condutor desse debate que aconteceu na Cúpula dos Povos. "É preciso transformar o sistema político brasileiro", declarou Boaventura. Esse modo de gerir a economia, continuou, é baseado na gestão dos empreendimentos pelos próprios trabalhadores, que os administram por meio da auto-gestão, em uma forma de democracia direta. "Trabalha-se com a ação humana", explica o professor.
Para Boaventura, o capitalismo consiste em uma economia anti-solidária, anti-verde e anti-humanitária. O papel da sociedade civil é pífio, "apêndice do capitalismo", a hegemonia dos bancos, do agronegócio e das grandes corporações é evidente. Toma como exemplo as verbas destinadas à pesquisa: 95% são destinadas ao agronegócio e apenas 5% são cedidas aos estudos sobre agricultura familiar. "É um mundo absurdo, onde metade morre por obesidade e a outra por inanição", declarou.
A chamada "economia verde", tema debatido à exaustão nos eventos oficiais da Rio+20 e tratado como a solução para os problemas climáticos e econômicos, foi colocada em questão por Boaventura. "É uma perversão total transformar a natureza em mercado. Economia verde é suprir o capitalismo com mais capitalismo". E ele faz um alerta aos países com base industrial, como o Brasil, que estariam a reprimarizar suas economias, ou seja, exportando mais produtos agrícolas do que industriais. "Esses países estão exportando sua natureza, suas riquezas. Quando os recursos naturais acabarem, essas nações estarão muito mais pobres do que antes", diz.
A íntegra.