O assunto é bom e precisa fazer parte da agenda de um governo de esquerda. Na agenda dos governos de direita, como Collor e FHC, além das eternas campanhas tucanas da era Lula (Serra, Alckmin e agora Aécio), ela sempre foi tratada com demagogia e oportunismo, escondendo outros interesses inconfessáveis. A matéria da Economist é exemplo disso. A revista é porta-voz do neoliberalismo e já fez campanha contra os direitos trabalhistas dos brasileiros. Sempre em nome da eficiência do setor privado, da competitividade, da livre concorrência e outras baboseiras que não funcionam, nunca funcionaram, a não ser como propaganda do capital. Não é à toa que toma para exemplo o salário de uma enfermeira da prefeitura. Quer dar a entender que todos os funcionários públicos recebem salários exorbitantes, quer a privatização dos serviços de saúde, assim como a privatização da educação, um movimento internacional liderado pelos EUA. É por isso que Economist trata do assunto, não é porque está preocupada com a justiça nos gastos do Estado brasileiro. Se o dinheiro fosse dado a empresas privadas a revista não chiaria. A revista está preocupado com o dinheiro que deixa de ir para os bolsos dos empresários, mas diz que quem está sendo roubado é o contribuinte, ou seja, todos nós; porque não tem coragem de dizer que defende os interesses de uma parcela pequena da população, tem de falar dos prejuízos para todos.
Os marajás, assim como a corrupção, não são o problema central da sociedade. Mais do que isso: uns e outra são promovidos pela própria direita que os ataca, tentando jogá-los nos ombros da esquerda, e usá-los como bandeira eleitoral. Eles são só isso para a direita: bandeira eleitoral. Servem para deviar a atenção dos assuntos realmente importantes: as desigualdades, a concentração de renda, os subsídios fartos dados aos empresários, a inversão de prioridades dos governos que nunca têm dinheiro para as ações que beneficiam os trabalhadores (educação, saúde, moradia e transporte de qualidade).
No poder, a direita promove a corrupção sem desfaçatez, distribui dinheiro para os amigos, contrata afilhados com salários astronômicos, cria cargos sem concurso público, cancela concursos, multiplica gastos com propaganda. Por isso, só um governo de esquerda tem moral para combater as distorções que a direita provoca.
Os salários dos marajás -- que já ajudaram a eleger um presidente -- provocam indignação nas pessoas de bem, nos cidadãos que pagam impostos, na população que tem de trabalhar para sobreviver, saber quanto ganham alguns funcionários públicos de alto escalão, políticos e juízes. Eles estão principalmente no Legislativo e no Judiciário, que fazem ou interpretam as leis a seu favor. O Estado não tem dinheiro para pagar o piso salarial dos professores que educam os filhos dos trabalhadores, mas tem para pagar salários astronômicos, mais salários extras, mais benefícios, mais adicionais, mais isso e mais aquilo. E essa gente nem precisa ir trabalhar -- o que fazem é descanso perto do que fazem os assalariados.
A população precisa saber disso e os governos precisam mudar de fato a situação. Os deputados, senadores e vereadores, por exemplo, hoje são completamente obsoletos e supérfluos. Para que eleger representantes (que não trabalham nem nos representam, pois depois de eleitos passam a servir aos lobbies), se podemos todos votar diretamente, pela internet? Por que um parlamentar tem que ser profissional e ter salário especial? Por que não pode receber (do Estado) o salário profissional que recebia antes de ser eleito?
Da BBC Brasil.
Para 'Economist', salários de servidores no Brasil são 'roubo' ao contribuinte
Uma reportagem na edição desta semana da revista britânica Economist afirma que altos salários pagos a parte dos funcionários públicos do Brasil são um "roubo ao contribuinte". Os dados sobre a remuneração dos servidores foram revelados recentemente por meio da Lei de Acesso à Informação.
"A presidente Dilma Rousseff está usando a lei sancionada no mês passado, originalmente criada para ajudar a desvendar atrocidades cometidas pelo regime militar, para expor os gordos salários de políticos e burocratas", diz a revista.
A Economist cita como exemplo de abuso o fato de mais de 350 funcionários da prefeitura de São Paulo ganharem mais que o presidente da Câmara, cujo salário líquido é de R$ 7.223, segundo a Economist.
A publicação compara o salário de uma enfermeira-chefe da prefeitura do município, de R$ 18.300, com a média salarial da iniciativa privada, e conclui que o salário da servidora é 12 vezes mais alto que o pago pelo mercado.
A reportagem lembra que, por lei, nenhum funcionário público pode ganhar mais que R$ 26.700 - a remuneração dos juízes de instâncias federais superiores.
Porém, um terço dos ministros e mais de 4 mil servidores federais teriam rendimentos superiores a esse teto. Incluindo o presidente do Senado, José Sarney, cujo salário chegaria a R$ 62 mil, devido a um acúmulo de pensões.
A revista também classifica como um "roubo ao contribuinte" o fato de membros do Congresso receberem 15 salários por ano, enquanto a maioria dos brasileiros recebe 13.
A íntegra.