As mulheres protagonistas da política brasileira, em que meio ambiente é o centro -- para o Brasil e para o mundo. As mulheres são melhores do que os homens? Mais sensíveis? Mais duras (Margaret Thatcher)? Não faz diferença? Kátia pensa com o bolso do seu latifúndio e dos latifúndios dos seus pares; a justificativa do agronécio para desmatar, poluir o ar, contaminar o solo, devastar nascentes e cursos d'água, expulsar populações, dizimar indígenas, escravizar trabalhadores e ainda receber subsídios do governo é que produz gigantescas quantidades de alimentos (para exportação) com a mais avançada tecnologia (que dispensa trabalhadores) e contribui expressivamente com as exportações brasileiras, equilibrando a balança comercial, possibilitando importações. Nessa conta não entram as populações do campo prejudicadas, não entra o meio ambiente, não entram as fabulosas somas de dinheiro doadas pelo governo na forma de incentivos, não entra a alimentação dos brasileiros, não entra a saúde, não entra a desigualdade social, não entra o futuro. Entra só dinheiro que movimenta, que entra na exportações, em forma de lucro para os ruralistas -- e para os políticos do seu poderoso lobby. Marina representa uma experiência diferente, cujo ícone é Chico Mendes, um mártir da luta ambiental, assassinado exatamente por ruralistas cujos interesses contrariou no faroeste do Norte brasileiro. Dilma é a xerifa desse faroeste. A experiência dos ambientalistas da Amazônia une uma visão antiga, dos povos da floresta, com uma visão pós-capitalista: produzir sem devastar, de forma sustentável, garantindo a sobrevivência da floresta, do ambiente e das futuras gerações. Isso afeta o lucro fácil dos predadores, não é a forma que o capital quer. Por isso a bandeira da sustentabilidade que muitas empresas hoje empunham é um desafio: o capital precisa abrir mão do que lhe é mais caro, do que é sua razão de viver, do que é a sua essência -- o lucro. Será capaz? Será a sustentabilidade pura propaganda?
Da BBC Brasil
Grupos usam Rio+20 para expor bandeiras e discutir a questão ambiental no Brasil
João Fellet, 15/6/2012
Em lados opostos nas discussões sobre preservação ambiental no Brasil, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) são as principais faces de grupos que pretendem usar a Rio+20 (Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável) para expor suas bandeiras e fortalecer-se na acirrada disputa que travam no Brasil.
Maior liderança política dos ambientalistas, Marina Silva, de 54 anos, ainda desfruta da popularidade experimentada na última disputa presidencial, em 2010.
À época, após uma arrancada nas últimas semanas, ficou em terceiro lugar, com 20 milhões de votos, e teve seu apoio disputado pelos candidatos que se enfrentaram no segundo turno – o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff. Optou pela neutralidade.
O desempenho, atribuído ao crescente endosso às causas ambientais na sociedade brasileira, foi um dos pontos altos de uma carreira catapultada pelo período em que chefiou o Ministério do Meio Ambiente, entre 2003 e 2008, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva é liderança política dos ambientalistas
Em entrevista à BBC Brasil, Marina diz que a gestão ambiental no Brasil vem se deteriorando de forma acelerada desde então. "A base legal que fez com que, desde 2004, se conseguisse reduzir a pobreza e o desmatamento agora está sendo abolida".
A ex-ministra critica a atuação do governo na reforma do Código Florestal e cita duas iniciativas que, segundo ela, ameaçam os avanços conquistados nos últimos governos: a Medida Provisória 558, que reduziu oito unidades de conservação na Amazônia; e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 213, que tramita no Congresso e busca transferir do Executivo para o Legislativo a responsabilidade de demarcar Terras Indígenas.
No outro lado do embate, a senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, representa um setor cujo apoio político tem crescido nos últimos anos, ancorado no sucesso econômico do agronegócio.
Hoje no controle de quase um quarto da Câmara e de 16% do Senado, a bancada ruralista foi responsável pelas maiores derrotas do governo no Congresso neste ano: além de fazer avançar a PEC 213, que dispõe sobre a demarcação de Terras Indígenas, impôs sua versão do Código Florestal, parcialmente vetada por Dilma nas semanas seguintes e que agora voltará à análise dos congressistas.
Pecuarista, a senadora Kátia Abreu preside a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
Ela própria uma pecuarista – em 1987, assumiu a fazenda do marido, morto em acidente de avião –, Abreu diz à BBC Brasil que o Código trouxe dois grandes benefícios ao setor: deu segurança jurídica aos produtores e "tirou a hegemonia das ONGs, que faziam mudanças (na legislação ambiental) através do Ministério do Meio Ambiente, via decretos".
A íntegra.