Tem hora que é bom ler a análise de psicanalistas, el@s veem o que não vemos. Lula e Maluf juntos, se cumprimentando, é imagem que vai ficar para a história. Mas não significa o que a direita tenta impingir. A direita (Serra) também queria o apoio do Maluf. Lamenta não o ter. Lula e seu PT (que não é todo o PT, mesmo porque uma parte abandonou o barco) aprenderam a fazer a política capitalista. Haverá outra? Fora do capitalismo, espero. No capitalismo, a política é assim, porque é assim que dá resultado, isto é, chegar ao poder e se conservar nele. Lula e seu PT aprenderam isso em 2002, ganharam, ganharam e ganharam. O PT virou o partido mais importante do País e Lula o presidente mais popular, desde JK e Getúlio. Depois de Lula é outra história, mas enquanto isso será difícil tirá-lo do poder. Que se amplia, ou pelo menos o PT tenta ampliar -- o jogo em São Paulo faz parte dessa tentativa. Não há partido neste país sem tradição partidária com raízes populares como ele. Conquistando o poder, como conquistou, administrando melhor do que os outros, como vem administrando, tendo um líder popular como Lula, ele reduziu ao mínimo as chances da direita retomar o poder. O PT poderia se chamar também PTC porque virou um partido dos trabalhadores e capitalistas, um partido de reformas no capitalismo, um partido que não tem pretensão revolucionária, que não tem pretensão de mudar radicalmente o capitalismo, mas governar bem para o capital, porém concedendo ganhos também aos trabalhadores. O que nos assusta na imagem de um Lula sorridente apertando a mão de uma mais sorridente ainda Maluf é que nos acostumamos a ver a história como o embate do bem contra o mal, a política como moral. Nada mais estranho ao capitalismo. No capitalismo, corrupção está no cerne, faz parte do sistema como a sua alma. Ou seria por acaso que é tão disseminada? O combate à corrupção é uma bandeira que a direita empunha contra a esquerda mas não contra os seus próprios candidatos. Está aí o senador DEMóstenes, fonte privilegiada da Veja -- ou melhor dizendo, um grande "parceiro" da Veja, que é como neoliberais gostam de se referir aos amigos --, para comprovar. A falta de escrúpulos do Maluf nos repugna, mas se olharmos para as últimas décadas da história brasileira os grandes vilões serão outros. Quem foi pior? Maluf, que derrotou o último candidato militar, ou Tancredo, que nos legou Sarney, um serviçal da ditadura? Nós, no entanto, somos eleitores, Erundina é política de longa data, acostumada a tudo, e, quando se emocionou ao aceitar ser vice do Haddad, sabia que o PP estava no mesmo barco e que PP em São Paulo é igual a Maluf. Por que será que reagiu como reagiu? Enfim, não é de agora que a política brasileira é feita por indivíduos e não por partidos. O partido que veio para mudar isso foi o PT, mas desde 2002 ele é menor do que Lula, porque optou pela política burguesa, na qual se faz aliança com o diabo se for preciso e que se administra a economia para o capital ter muito lucro, com muita corrupção. Por que faz isso? Porque está no poder e no poder pode fazer isso e aquilo pelos "trabalhadores", como de fato tem feito, pode fazer melhor do que a direita faz. É bom lembrar que Erundina é do mesmo partido (PSB) do prefeito Lacerda, um neoliberal afinado com os demotucanos. Aqui, Serra é Lacerda, do partido de Erundina, mas o PT está com ele! Em outras palavras: é muito melhor eleger Haddad com apoio do Maluf do que eleger Lacerda com apoio do PT. Nós, belo-horizontinos, temos muito mais motivos para nos indignar. Erundina podia se indignar também.
Do Viomundo.
A política do bem e do mal
por Mirmila Musse
Os partidos não simbolizam mais a vida política. Joga sozinho aquele que é escolhido pelo partido para representá-lo. Aceitando a missão, tem um caminho árduo a trilhar. Se eleito, terá de lutar para, ao mesmo tempo, colocar seu partido para governar e tornar-se um personagem da política, sob o risco de cair no ostracismo. As pessoas, em geral, votam no palhaço, no marido da Carla Bruni etc., e não no PR ou no UMP.
Isso tende a se generalizar. Nesta semana, muitos disseram que não votam no Maluf, nem no Lula. Mas o candidato a prefeito não é o Fernando Haddad?! Na foto, amplamente divulgada em todas as mídias, quem estava entre Lula e Maluf, mas quase passou despercebido?
Essa questão talvez ajude a entender a atitude da ex-prefeita Luiza Erundina. Explicando sua renúncia à candidatura à vice-prefeita de São Paulo, ela alegou ter ficado chocada com a coligação entre o PT e o PP. Perdão, eu me enganei. Não foi nesses termos que ela explicou sua renúncia. Em entrevista ao telejornal Record News, ela disse: "O que aconteceu mesmo foi o fato de que a aliança não é com o PP, lamentavelmente foi com Maluf". Os jornalistas tampouco se lembraram de lhe perguntar por que o partido no qual ela está filiada, o PSB, está coligado em vários estados do Brasil ora com o PSDB, ora com o DEM e até mesmo com o PP, o partido do Maluf.
No episódio, parece que Erundina não agiu seguindo uma lógica partidária ou um cálculo político, mas antes uma motivação pessoal. Ao dizer, por exemplo, que "Lula teria passado dos limites", ela reforça a cultura de que a escolha eleitoral deve continuar assentada em lideranças individuais idolatradas, em celebridades, não em partidos.
O PP está coligado com o PT desde o primeiro mandato de Lula na presidência. Mas isso não parece importante. Para Erundina, não se trata de uma reedição na cidade de São Paulo de uma aliança já consolidada em âmbito nacional, mas sim de uma composição entre Lula e Maluf.
A presença do PP no governo federal afetou pouco ou quase nada o desempenho do PT na presidência. Esse dado sequer é considerado na avaliação do governo pela população.
Embora se saiba que não é Maluf quem irá governar caso o PT ganhe a eleição na cidade de São Paulo, o modo como a política tende a ser simbolizada e visualizada torna a coligação contraproducente. Nem por isso a escolha da camarada Erundina, abdicando da oportunidade de interferir ativamente na campanha e na futura gestão municipal, deixa de ser "infeliz".
Nessa mesma entrevista à Record News, ela cometeu um ato falho significativo. Depois de seis minutos, Erundina disse: "[soube] que iria começar uma tentativa de acordo com o PP para apoiar o Haddad. E aí eu perguntei ao vice, ao candidato, aliás, ao candidato a prefeito, Fernando Haddad". Ela gostaria de ser a candidata, a escolhida de Lula? Imagina que Maluf teria mais voz que a vice-prefeita? Não cabe aqui tratar dos desejos atuais de Luiza Erundina. Mas cabe a ela se perguntar de qual Outro busca reconhecimento? De Lula, da população, de sua base política, da mídia? Qualquer que seja a sua motivação, reforça-se a tese de que os políticos agem cada vez mais considerando como determinantes não os partidos, mas a ação individual. Nesse contexto, sequer soa paradoxal que a militante pela democratização dos meios de comunicação tenha escolhido o jornal O Globo e a revista Veja para anunciar seu desconforto e sua renúncia.
A íntegra.