A questão é: a organização militar e paramilitar golpista e terrorista que se instalou nos países da América do Sul nos anos 60 e 70 foi desmontada? Elas foram planejadas para destruir a esquerda e cumpriram seu papel; a ditadura mais sanguinária e mais bem-sucedida, no Chile, não só destruiu a esquerda como experimentou o neoliberalismo, que governos "demcráticos" de direita (como os de Collor e FHC) implantariam depois. O capital não tem preferência por nenhum tipo de governo, desde que garanta seu lucro. Se o golpe contra governos de esquerda vem pelo Congresso e pelos veículos de comunicação, melhor para eles, mas os militares não são descartados. Eles podem estar de pijama, não estão mortos. Em Minas Gerais, saudosistas da ditadura publicam um jornal: "Inconfidência". Ao contrário do que diz a Monsanto em nota oficial, a multinacional participou do golpe no Paraguai, denuncia o ativista de direitos humanos Martin Almada. Golpes, sejam como este, sejam por meios de quarteladas, não acontecem à toa, defendem interesses empresariais. Basta procurar os interesses em jogo para se encontrar os patrocinadores do golpe.
Da Agência Carta Maior.
Golpe no Paraguai revela nova face da Operação Condor, diz ativista
Najla Passos
Em entrevista exclusiva à Carta Maior, o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio, Martin Almada, disse que o recente golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do seu país revela a atualidade da Operação Condor, considerada a maior ação articulada de terrorismo de estado já imposta ao povo latino-americano.
Prêmio Nobel da Paz alternativo, foi Almada quem descobriu, no Paraguai, na década de 90, o chamado "arquivo do terror", que contém os principais registros conhecidos da Operação Condor, a articulação dos aparelhos repressivos do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai que, a partir da década de 1960, sob a coordenação dos Estados Unidos, garantiram o extermínio das forças resistentes à implantação de um modelo econômico favorável aos interesses das oligarquias locais e das multinacionais que elas representam.
O ativista está em Brasília justamente para participar, nesta quinta (5/7/12), de um seminário sobre a Operação, promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça da Câmara. Confira a entrevista:
- Como se deu a articulação do golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do Paraguai?
- Foi uma trama muito bem montada pela direita paraguaia. E quando digo direita paraguaia, me refiro à oligarquia Vicuna, aos grandes fazendeiros, me refiro aos donos da terra, os plantadores de soja transgênica, me refiro às multinacionais, como a Cargil e a Monsanto, e também aos partidos tradicionais ligados a essas oligarquias. É um caso muito particular de golpe.
- E como se comportou a imprensa paraguaia?
- Os meios de comunicação estavam todos a serviço do golpe. É por isso que digo que foi um golpe perfeito: quando o presidente golpista assumiu, se cantou o hino nacional com uma orquestra. E uma orquestra de câmara. Foi um golpe planificado com muita antecipação.
(...) Já é possível identificar três fases da Operação Condor. A primeira, que começou aqui no Brasil, em 1964, com a queda do presidente João Goulart, era uma Condor bilateral: Brasil-Argentina, Brasil-Paraguai, Brasil-Uruguai. A segunda, em 1975, já era uma Condor multilateral, com um acordo ratificado entre as ditaduras dos cinco países. Agora, a Condor é global. Depois dos eventos de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, se revelou que havia centros clandestinos de tortura americanos até na Europa. Portanto, há uma Condor global. E nós temos que entender o que é a Operação Condor, como ela funciona, quem a dirige... porque quem dirige a Condor é também quem dirige a Organização das Nações Unidas, o Pentágono, a máfia das drogas...
A íntegra.