Na entrevista que concedeu ao jornal O Tempo, segunda-feira passada, o vice-prefeito Roberto Carvalho (PT) citou um número estarrecedor: 54 moradores de rua foram assassinados em Belo Horizonte nos últimos três anos. "A política da prefeitura é jogar água em mendigos de madrugada, em vez de acolhê-los", denunciou, ao relacionar suas divergências com o prefeito Márcio Lacerda (PSB) desde que os dois foram eleitos, em 2008. Na verdade, o caso é ainda mais grave: 54 mendigos foram assassinados na capital nos últimos 15 meses. O levantamento foi feito pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável (CNDDH) e publicado nesta impressionante reportagem do Estado de Minas reproduzida abaixo. A capital lidera esse hediondo ranking no País. A administração Lacerda é acusada de "higienizar" a cidade, "limpando-a" de mendigos, moradores de rua, hippies e outros seres humanos que não geram lucros. O prefeito milionário, que "administra Belo Horizonte como uma empresa", fechou o Centro de Referência de Moradores de Rua, como parte da sua política de corte de despesas na área social. Será que agora que Lacerda é sinônimo de Aécio e candidato do senador tucano à reeleição, adversário do PT, o jornal vai publicar denúncias assim ou só maravilhas do governo municipal?
Do jornal Estado de Minas, 22/6/2012.
MG lidera assassinatos de moradores de rua no País
Tiago de Holanda
"Há uns quatro meses mataram um companheiro nosso. Ele estava ali, perto daquela lixeira. Um cara meteu cinco tiros nele, não sei por quê", conta João (nome fictício) em uma calçada da Avenida do Contorno, na Região Centro-Sul da capital. A poucos metros dali, sob o Elevado Castelo Branco, uma menina dormia quando deram "ferrada na cabeça dela", lembra. "Rachou o crânio em seis pedaços. Acho que foi vingança", especula o catador de material reciclável de 36 anos que mora na rua há 14 nas contas dele.
Em Minas, as cenas brutais descritas por João não são tão raras quanto pode parecer. Nos últimos 15 meses, entre fevereiro de 2011 e maio de 2012, foram assassinados pelo menos 61 moradores de rua no estado. Quase todos os casos (54) ocorreram em Belo Horizonte. No mesmo período, pelo menos 195 mortes de moradores de rua foram registradas em todo o país. O levantamento foi feito pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável (CNDDH), composto por representantes do Ministério Público, da Secretaria de Direitos Humanos do governo federal, da Pastoral da Rua e de duas organizações ligadas a moradores de rua.
Minas lidera o ranking nacional de assassinatos, seguido por Alagoas (33). Os dois estados somam 48% dos casos, o que não significa que sejam os mais violentos com a população de rua. "Os números são maiores, mas não indicam necessariamente mais moradores de rua mortos. As polícias civis em Belo Horizonte e Maceió foram as que tiveram mais boa vontade em nos enviar informações. O número no país deve ser muito maior", afirma o sociólogo Maurício Botrel, do CNDDH.
A íntegra.