Este artigo está citado por Amaury Ribeiro Jr. em A privataria tucana, sério candidato a livro mais importante publicado no Brasil neste século. O autor e o local da publicação não poderiam ser menos suspeitos: um ex-ministro de FHC, fundador do PSDB, e o jornal porta-voz do tucanato paulista. A privatarização da telefonia brasileira não foi o maior crime cometido pelol governo FHC. O que o livro do Amaury mostra é que as "tolices" tucanas foram movidas por milhões de dólares depositadas em contas de tucanos em paraísos fiscais.
O menino tolo
Luiz Carlos Bresser-Pereira
Folha de S.Paulo, 18.7.2010
Só um bobo dá a estrangeiros serviços públicos como as telefonias fixa e móvel
João é dono de um jogo de armar. Dois meninos mais velhos e mais espertos, Gonçalo e Manuel, persuadem João a trocar o seu belo jogo por um pirulito. Feita a troca, e comido o pirulito, João fica olhando Gonçalo e Manoel, primeiro, se divertirem com o jogo de armar, e, depois, montarem uma briga para ver quem fica o único dono. Alguma semelhança entre essa estoriazinha e a realidade? Não é preciso muita imaginação para descobrir. João é o Brasil que abriu a telefonia fixa e a celular para estrangeiros. Gonçalo é a Espanha e sua Telefônica, Manuel é Portugal e a Portugal Telecom; os dois se engalfinham diante da oferta "irrecusável" da Telefônica para assumir o controle da Vivo, hoje partilhado por ela com os portugueses. Mas por que eu estou chamando o Brasil de menino bobo? Porque só um tolo entrega a empresas estrangeiras serviços públicos, como são a telefonia fixa e a móvel, que garantem a seus proprietários uma renda permanente e segura. No caso da telefonia fixa, a privatização é inaceitável porque se trata de monopólio natural. No caso da telefonia móvel, há alguma competição, de forma que a privatização é bem-vinda, mas nunca para estrangeiros.
A íntegra.