domingo, 4 de dezembro de 2011
A "obsessão" de Roberto Carvalho e o medo de Márcio Lacerda
A revista Viver, que chega gratuitamente aos domicílios da zona sul de Belo Horizonte, traz na última edição matéria que ataca da primeira à última linha o vice-prefeito Roberto Carvalho. O título: "Obsessão". Até aí nada de extraordinário: Carvalho é do PT, partido a que a revista faz oposição, digamos, obcecada. O espantoso é que as fontes da publicação são petistas! Há alguns meses uma edição de Viver que atacava o prefeito de Nova Lima, Carlos Rodrigues, também do PT, foi recolhida das bancas por determinação judicial. Fato, aliás, inócuo, pois os exemplares da publicação vendidos em banca são provavelmente muito poucos e a repercussão tornou a matéria mais visível. Viver costuma elogiar com entusiasmo tudo que o governador Anastasia e o prefeito Lacerda fazem. Como se sabe, o ingrato Lacerda defenestrou da prefeitura os petistas que não lhe são submissos, inclusive aqueles que angariaram os votos decisivos para sua eleição em 2008, entre os quais Carvalho se destacou. A "obsessão" de Carvalho, segundo a revista, é ser prefeito. Pretensão legítima, penso eu, para um vice-prefeito, ainda mais quando não pertence ao partido do prefeito. Se não há nada de errado em Carvalho pretender ser prefeito, muito menos que seu partido, o PT, lance candidato próprio na eleição de 2012. Afinal, foi o PT, pelas mãos do ex-prefeito Pimentel, que colocou o desconhecido Lacerda no cargo máximo da cidade. É público e notório que a administração Lacerda tem pouco ou quase nada a ver com as administrações petistas que a antecederam. O prefeito, um empresário milionário que não mora em Belo Horizone, levou para seu governo os tucanos, inimigos do PT. Agora pretende que o PSDB ingresse na sua chapa de 2012, possivelmente indicando o candidato a vice-prefeito. Nada mais natural, portanto, que o PT, arrependendo-se da bobagem que fem em 2008 (como um militante que no dia 7 de novembro passado impingiu-se 40 chibatadas amarrado ao pirulito da Praça 7), lance candidato próprio a prefeito e que o atual vice-prefeito seja um nome forte e credenciado para pleitear a indicação. O que há de "obsessão" nisso? Até o ex-ministo Ciro Gomes, que pertence ao partido do prefeito Lacerda, o PSB, reconhece a pretensão como legítima. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Ciro defendeu que sua legenda lance candidato a presidente para concorrer com o candidato do PT, mesmo sendo os dois partidos aliados no governo federal. "É para isso que tem segundo turno", argumentou o "socialista". Se vale para o PSB, vale também para o PT, é claro. Por que então a pretensão de Roberto Carvalho seria uma "obsessão"? Aí é que está: Lacerda expulsou os petistas da prefeitura, mas não quer o PT como adversário eleitoral, porque sabe que corre risco de não ser reeleito. Foi o PT que lhe garantiu os votos que o elegeram em 2008. O jeito então é sustentar a ideia de que Carvalho é um "obcecado" pelo poder. Para isso conta com a ajuda inestimável da imprensa amiga. É a mesma estratégia de Aécio e Anastasia, que Lacerda copia com auxílio de muita propaganda e da sua imprensa: uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Assim é com a péssima educação mineira, que paga o pior salário para os professores no País, mas na propaganda do governo, que emprega artistas globais ingênuos e bem pagos, "mostra o caminho". Tudo isso revira o estômago da gente, mas em nove anos de governos Aécio-Anastasia já vimos bastante. O que realmente causa perplexidade são as fontes da matéria de Viver: elas vêm, em grande parte, do próprio PT. São os "pimentelistas", que mesmo levando rasteira de Aécio em 2010, persistem colocando interesses pessoais à frente dos interesses que como políticos deveriam defender. E apesar de o diretório municipal do PT ter denunciado em nota oficial a política autoritária de Lacerda, quando extingiu as funções do vice-prefeito e demitiu os petistas. É bom guardar os nomes desses "petistas": Reginaldo Lopes, presidente do diretório estadual e deputado federal; Aloísio Marques, ex-presidente do diretório municipal; Virgílio Guimarães, ex-deputado federal -- além do próprio Pimentel e de um "petista histórico" cujo nome não é revelado. Todos batem na tecla da "obsessão" de Roberto Carvalho, em nenhum momento a matéria discute as divergências entre os dois partidos, entre a administração atual e as anteriores, entre Lacerda e Carvalho. Aliás, em nenhum momento também os argumentos de Carvalho ou de qualquer outro que o defenda são citados. Sim: numa matéria tão importante, que trata do futuro da cidade, só um lado foi ouvido pela revista. Isso é jornalismo ou um panfleto lacerdista?