domingo, 4 de dezembro de 2011

A morte do corajoso Doutor Sócrates

Minha geração admirou seu comportamento político tanto quanto seu futebol imprevisível, feito de passes de calcanhar, lançamentos precisos e excelente posicionamento em campo. Bastava ao Doutor fazer parte da Seleção de 82 para entrar na história do Brasil -- como Cerezo, Falcão, Zico, Luisinho, Júnior, Éder, Oscar, Paulo Isidoro, Leandro. Mas Sócrates fez mais, fez parte da Democracia Corinthiana, outro feito que só tem paralelo no posicionamento político e no gesto comemorativo dos gols do atleticano Reinaldo, o Rei, e, antes, nas atitudes do botafoguense Afonsinho. Numa época de ditadura, quando a simples menção da palavra democracia era risco de vida, quando o treinador da Seleção era um militar, o Doutor liderou um time de jogadores bons de bola, que derrotaram os militares no jogo da manipulação popular, usando como armas o talento, a garra, a honestidade, a competência, o coração. Há uma palavra que resume essas qualidades: coragem. O maior craque da história do Corinthians escolheu um dia especial pra morrer. Aqui a homenagem do jornalista Mino Carta ao atleta, artista, cidadão e escritor. Aqui e aqui suas últimas colunas na CartaCapital.

Da CartaCapital.
Sócrates 1954 - 2011
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lamentou, na manhã deste domingo 4, a morte do ídolo e amigo Sócrates, seu eleitor declarado. "O Doutor Sócrates foi um craque no campo e um grande amigo. Foi um exemplo de cidadania, inteligência e consciência política, além de seu imenso talento como profissional do futebol", escreveu o ex-presidente, em nota assinada também por Marisa Letícia, ex-primeira-dama, e familiares. Corintiano, Lula afirmou que Sócrates deu uma "contribuição generosa" para o futebol e para a sociedade brasileira que "jamais será esquecida". "Neste momento de tristeza, prestamos solidariedade a esposa, familiares e amigos do Doutor", escreveu o ex-presidente, que já jogou bola com Sócrates durante uma "pelada", na Granja do Torto, em 2005. O ex-jogador e colunista de CartaCapital morreu às 4h30 da madrugada de domingo 4, aos 57 anos, vítima de uma infecção generalizada no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Irmão mais velho do também ex-jogador de futebol Raí, Sócrates estava internado desde quinta-feira 1º devido a uma infecção intestinal causada por uma bactéria. Ontem, o ex-atleta respirava com a ajuda de aparelhos e fazia tratamento diálico na UTI. Seu estado era considerado grave, mas estável. Ele deixa esposa e seis filhos.