domingo, 7 de outubro de 2012
Belo-horizontino inventor do bina quer receber R$ 185 bilhões das telefônicas
Até na revista Viver a gente encontra alguma coisa pra ler. A última edição (nº 91) da revista gratuita publica entrevista com Nélio José Nicolai, inventor do bina (b identifica o número a), o identificador de chamadas telefônicas. Ele é belo-horizontino, formado em eletrotécnica pelo Cefet-MG (quando ainda se chamava Escola Técnica Federal de Minas Gerais), envelheceu e empobreceu travando uma luta judicial contra as operadoras de telefone que usam o serviço sem pagar pela patente. Isso mesmo: Nicolai é dono das patentes do invento -- uma para telefones fixos e outra para celulares -- usadas pelos fabricantes e operadoras de telefones desde as décadas de 1970 e 1990, e que permite que saibamos de que número ligam para nós. As operadoras usam o serviço, cobram por ele, mas não pagam um centavo ao inventor brasileiro. Sua paternidade é reconhecida internacionalmente, como demonstra artigo na Wikipédia. Nicolai calcula que tem a receber R$ 185 bilhões em royalties -- o que o tornaria o homem mais rico do mundo, mais rico do que Bill Gates. A Bell Canada, por exemplo, veio ao Brasil conhecer o serviço, "desistiu" dele e depois lançou um igualzinho. Este ano ele firmou um acordo com a Claro cujos valores não revela, por força de uma cláusula de confidencialidade, mas os processos contra as outras multinacionais prosseguem. Nicolai, que mora em Brasília e tem outras invenções telefônicas patenteadas, não quer só dinheiro, ele quer ser reconhecido como autor do invento; as empresas querem comprar sua patente. Sua história é reveladora de como funcionam e a serviço de quem estão a justiça e a política de tecnologia no Brasil. Nicolai teve de vender tudo que possuía para manter as ações na justiça durante tanto tempo. Ano após ano, juízes como a titular da 9ª Vara Civil de Brasília, Ana Maria Pereira de Oliveira, e o desembargador Cruz de Macedo, protelam as vitórias de Nicolai, em benefício de multinacionais como a Ericcson, a Motorola e a Vivo. Como diz o inventor: quando ele não aceita acordos lesivos aos seus interesses, os advogados das empresas lhes dizem jocosamente: então vai procurar a justiça. Por iniciativa de inventores americanos, a luta de Nicolai -- que inventou o bina quando tinha 37 anos e hoje tem 72 -- tornou-se símbolo dos inventores no mundo.