A análise política, o jornalismo alternativo e a esquerda estão concentrados em São Paulo, o que distorce sua visão, no meu entendimento. O PT subestima claramente a força de Aécio Neves, muitos já o dão como carta fora do baralho. Desconsideram o fato de o senador tucano ser mineiro e de Minas só entrar em disputas nacionais para ganhar. Esse erro já lhes custou a prefeitura de Belo Horizonte. Outra falha é não considerarem a aproximação entre Aécio e Eduardo Campos, entre PSDB -- o do Aécio, não o do Serra -- e PSB. O PT já disse que seu aliado prioritário é o PMDB. Está certo, é o maior partido do País -- mas definha. Enquanto o PSB cresce. Se se juntar ao PSDB, aparecerá com a mensagem do novo, da renovação. Se não em 2014, em 2018. Não se faz política pensando apenas na eleição seguinte; duas eleições à frente é demais, mas uma eleição adiante é necessário. O que aconteceu em BH este ano já tinha sido previsto em 2008.
Curiosidade: o PT venceu as eleições no município mais populoso do Brasil, São Paulo, e no menos populoso, Borá, também em São Paulo.
Da Agência Carta Maior.
Um balanço das eleições municipais
Emir Sader
As eleições municipais foram sobredeterminadas pelas eleições de São Paulo. Em primeiro lugar porque é o centro dos dois partidos mais importantes do Brasil nas últimas duas décadas. Em segundo, pelo peso que a cidade tem no conjunto do país – pelo seu peso econômico, por ser sede de dois dos 3 maiores jornais da velha mídia. Esse caráter emblemático foi reforçado porque o candidato opositor ao governo federal foi o mesmo candidato à presidência derrotado há dos anos, enquanto o candidato do bloco do governo federal foi indicado pelo Lula, que se empenhou prioritariamente na sua eleição. E pelo fato de que São Paulo era o epicentro do bloco da direita, que se estendia ao Paraná, Santa Catarina e aos estados do roteiro da soja, no centro oeste do Brasil.
As eleições municipais tiveram claros vencedores e derrotados. O maior vencedor foi o governo federal, que ampliou o numero de prefeituras conquistadas pelos partidos que o apoiam, mas principalmente conquistou cidades importantes como São Paulo e Curitiba, arrebatadas ao eixo central da oposição. Ao mesmo tempo que a oposição seguiu sua tendência a se enfraquecer a cada eleição, ao longo de toda a ultima década, perdendo desta vez especialmente a capital paulista, mas também a paranaense e em toda a região Sul, Sudeste e Centro Oeste, em que os tucanos não conseguiram eleger nenhum prefeito nas capitais.
No plano nacional, avança claramente a base aliada, com dois dos seus partidos fortalecendo-se: PT e PSB e enfraquecendo-se relativamente o PMDB. Houve uma certa fragmentação no interior da base aliada e mesmo no bloco opositor, mas nada que mude a tendência, que se consolida ao longo da década, da hegemonia do bloco governamental, apontando a que nas eleições de 2014 Dilma apareça como a franca favorita,
A derrota em São Paulo é um golpe duro para os tucanos, que sempre contavam com um caudal grande de votos paulistas para ter chances de compensar os votos do nordeste dos candidatos do PT e agora se veem enfraquecidos em toda a região onde antes triunfavam. Eventuais candidatos presidenciais como Aécio – quase obrigado a se candidatar, embora com chances muito pequenas de um protagonismo importante, quanto mais ainda de vencer – ou Eduardo Campos – sem possibilidades de se projetar como líder nacional fora dos marcos do bloco do governo, que já tem Dilma como candidata para 2014 –, são objeto de especulações jornalísticas, à falta de outro tema, mas têm reduzidas possibilidades eleitorais.
A íntegra.