Hoje é um dia para Belo Horizonte vestir luto. A reeleição do prefeito Márcio Lacerda é uma página triste para a história da cidade.
Em 2008 ele foi eleito com votos de petistas, no segundo turno. A candidatura do petista Patrus Ananias chegou tarde demais para
reverter a articulação da direita tucana: o PT passou três anos e meio
nos dizendo para reeleger Lacerda e os três últimos meses dizendo o contrário. Ainda assim Patrus obteve 40% dos votos válidos.
Ver que quatro anos depois de um governo desastroso o prefeito milionário que não mora na cidade que administra obteve 52,69% dos votos válidos é motivo de descrença na política -- e este é o melhor terreno para a atuação da direita: o povo indiferente, para que ela deite e role sem fiscalização.
Numa cidade em que a imprensa é a favor do governo, qualquer governo, só resta à própria sociedade resistir. Os quatro próximos anos devem ser piores do que os anteriores, uma vez que agora os tucanos vão mandar sozinhos e implantar sua política neoliberal ainda mais "de com força". A frente de 20 partidos que, segundo a página do TRE-MG, Lacerda formou deve dominar completamente a Câmara de Vereadores e facilitar em muito sua atuação.
Se nos primeiros quatro anos, com a oposição interna do PT no governo e a resistência de parte da Câmara, o prefeito milionário que não mora na cidade que administra fez o que fez, podemos imaginar o que fará agora, que foi aprovado pela maioria e tem a Câmara a seu favor: vai vender o que resta em imóveis públicos, privatizar os espaços restantes, como parques, áreas verdes e praças, liberar construções de todo tipo e altura em qualquer lugar da cidade, além de proibir manifestações e chamar a polícia do Aécio-Anastasia para descer a lenha na "minoria" que se opuser a ele. Afinal, foi isso que ele fez e anunciou que ia fazer e foi aprovado pela maioria.
É bom observar, porém, que a maioria que o elegeu, na verdade é uma minoria, que pouco passa de um terço do eleitorado belo-horizontino. No total, mais de um terço dos eleitores da capital -- 33,82% -- não votou em nenhum dos candidatos, o que me parece um percentual alto: a abstenção foi de 18,88%, os votos nulos foram 9,15% e os votos brancos foram 5,79%. Isto significa que só 34,78% dos eleitores de Belo Horizonte votaram em Lacerda: 52,69% de 66,18%.
Se alguma coisa boa houve, foi um certo renascimento do PT, que voltou a mobilizar sua militância, acordou do pesadelo lacerdista e recuperou bandeiras históricas.
Agora, pelo menos a oposição ao prefeito que pisca quando mente tem o reforço do PT. Espera-se que esta situação se mantenha, que a ala petista que esteve com Lacerda até a última hora não tenha uma recaída tucana nem volte a se aproximar dele. Afinal, o que estará em jogo daqui pra frente não é só o futuro da cidade e do estado, totalmente entregues ao protofascismo neoliberal, mas o futuro do Brasil e a reeleição da presidente Dilma.
Aécio usou o cavalo de troia do Lacerda para atingir o coração de Minas Gerais e o usará como sua trincheira na campanha em 2014. Como se sabe, o resultado eleitoral em Minas costuma ser um retrato do resultado nacional, quem vencer aqui provavelmente vencerá no Brasil.
Talvez o PT ainda não tenha compreendido, mas a campanha pela reeleição da presidente Dilma começou hoje, em Belo Horizonte, sua terra natal.
Como um velho coronel que se considera dono das Minas e dos Gerais, o senador Aécio Neves já a chamou de "estrangeira" e avisou que vai fechar as porteiras do estado. Cabe ao povo belo-horizontino dizer: "Bem-vinda, Dilma!"