O que Sader diz sobre São Paulo vale também para Belo Horizonte -- embora aqui o fenômeno seja mais recente e o próprio PT tenha responsabilidade sobre ele -- e outras cidades brasileiras. Na última década, enquanto o País progrediu, várias capitais regrediram, especialmente no que diz respeito à qualidade de vida, aos espaços públicos, às liberdades individuais, à tolerância e à violência. Este "resgate" das cidades por administrações que põem as pessoas em primeiro lugar é uma das bandeiras mais importantes da nossa época. Desenvolvimento não é só fazer obras. É também acabar com a miséria, como lembra o dístico do governo Dilma, mas é mais que isso, é pôr a qualidade de vida em primeiro lugar. Grande parte dessa qualidade vem de coisas que não dependem da renda, se os governos forem bons e os serviços públicos funcionarem: escolas públicas de qualidade, serviços de saúde de saúde de qualidade, transporte coletivo de qualidade, áreas públicas e parques civilizados, polícia civilizada, respeito a regras básicas de convívio coletivo e coisas assim. Em relação a todos esses itens, Belo Horizonte é hoje uma cidade sem lei, e onde não há lei impera a lei do mais forte, com a conivência criminosa das autoridades.
Da Agência Carta Maior.
O resgate de São Paulo
Por Emir Sader
São Paulo, uma das cidades mais extraordinárias do mundo, se tornou uma cidade triste, cinzenta, cruel, de exclusão, de discriminação, de intolerância. Tornou-se a cidade mais injusta do Brasil, pela brutal polarização entre a mais desenfreada riqueza e os maiores polos de pobreza, de miséria, de abandono do Brasil. A isso ficou reduzida nossa querida São Paulo nas mãos da sua elite e dos partidos que a representam.
A chance de seu regate é agora. Pelo desgaste das políticas da direita e pela conjunção de fatores que levou Fernando Haddad a liderar as pesquisas. Não por acaso o resgate é comandado por um ex-estudante da USP e um ex-operário metalúrgico do ABC – algumas das grandes marcas que de São Paulo, de que nos orgulhamos tanto.
São Paulo foi guindada, pelas mãos da sua direita, à condição de uma cidade que renega o que ela tem de melhor. Renega a diversidade, renega os movimentos sociais, renega os trabalhadores nordestinos – que construíram, com suas mãos e seu sofrimento, a riqueza de São Paulo –, renega a cultura, renega sua relação com o Brasil, renega o seu povo.
Uma São Paulo que virou as costas para o outros estados, virou as costas para Brasil. Uma São Paulo que tentaram manter à margem do maior processo de democratização econômica e social que o país já viveu. À margem do reconhecimento e extensão dos direitos básicos a todos os cidadãos brasileiros, antes marginalizados pelos governantes, especialmente no governo tucano acentuou a desigualdade, a miséria e a pobreza no Brasil.
Ao invés de "locomotiva da nação", como apregoa a velha elite paulista, tornou-se objeto de vergonha nacional – pela miséria, pela discriminação, pelo racismo, pela violência policial e dos grupos extermínio, pela decadência de seus sistemas de educação e de saúde pública, entre tantas outras vergonhas.
A íntegra.