(Tinha que ser com dois eles, porque a elite brasileira adora sobrenome com letra dobrada...)
Uma boa matéria na Folha -- quem diria -- sobre a divergência política que separou os sócios Fernando Meirelles e César Charlone, diretor e fotógrafo do filme "Cidade de Deus".
Muitos de nós temos amigos assim, de um lado e de outro. A favor de Meirelles a minha concordância de que tolerância é a palavra-chave e que a questão ambiental está acima de todas as outras. A favor de Charlone tudo o mais.
Um retrato do Brasil de hoje, desse acirramento de posições que eu não conhecia.
Quer dizer, o golpe e a ditadura foram isso, mas eu não os vivi conscientemente; depois, o povo e a maioria, os esclarecidos e os intelectuais, os progressistas e os artistas sempre estiveram -- ou eu pensava que estavam -- do mesmo lado. É uma sensação muito ruim ver pessoas que podem ser meus vizinhos ou meus amigos xingando Dilma e Lula, chamando pobres de vagabundos e nordestinos de ignorantes. E serem incentivados a isso por um ex-presidente da República, justamente o presidente mais "esclarecido", um intelectual, sociólogo, um homem da universidade.
O Brasil está mudando, nunca mudou tanto, esta é a realidade -- e no entanto a bandeira da oposição é o verbo mudar, a palavra mudança.
Por trás do substantivo e do verbo estão sentimentos ruins, de ódio, de intolerância, de preconceito, que não têm coragem de se expressar abertamente assim: o antipetismo.
Mudar para essas pessoas significa tirar o PT do poder, eliminar tudo que ele representa: os pobres, a ascensão social, a distribuição de renda.
É como "mandar essa gente de volta para o seu lugar".
Acredito que são poucos, mas fermentados pela "grande" imprensa e pelo verbo mudar, eles ficam inflados, inchados, multiplicam-se, contaminando outros ao seu redor.
Jovens reacionários e egoístas, por exemplo, era uma coisa que eu não conhecia em grande quantidade e apareceram nessa campanha. É deprimente vê-los.
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