Uma boa análise do debate de quinta-feira.
Não vi o debate, só li sobre ele e não tenho opinião formada a respeito.
Minha tendência é rejeitar o baixo nível e achar que a presidente deveria se colocar de forma superior, elevando a discussão para propostas e ações de governo.
Jogar no seu campo -- a baixaria é o campo do inimigo.
Ela passou mal no fim do debate, o que demonstra talvez quanto o baixo nível lhe custou.
Mas, em 89, como lembra o artigo, Collor baixou o nível, Lula acusou o golpe e perdeu. (Por acaso fui testemunha do episódio, como lembrei num artigo para o
Cometa Itabirano e está registrado em livros de memórias daquela
eleição.)
O que dizer sobre o povão, que vê Dilma apanhar calada há quatro anos? O povão que foi beneficiado por seu governo e simpatiza com ela, mas sofre o bombardeamento diário da televisão.
Será que o povão não gostou de ver a presidente de defendendo? Não será verdade que o povão não gosta de quem apanha calado? Que ao vê-la se defendendo e atacando de volta, valentemente, não se solidarizou com ela?
Como diz o artigo também, o tucano atirou com a munição que a "grande" imprensa (Globo, Veja, Folha etc.) lhe forneceu e Dilma respondeu com a munição que a "pequena" imprensa (saites de notícias, blogs, redes sociais etc.) lhe deu.
Ataque x defesa, mentiras x verdades.
O fato é que, se o tucano vencer, pode ser que o baixo nível não tenha sido a estratégia certa, mas também é verdade que as mentiras terão sido denunciadas.
O confronto terá saído das redes sociais e atingido a "grande" imprensa, não será mais o mesmo.
Se Dilma vencer, o conflito entre velha e nova imprensa terá sido posto num ponto do qual não pode haver volta.
Lembremos que a presidente, eleita em 2010, com o mesmo apoio da "pequena" imprensa contra a "grande", fez do seu comparecimento a uma solenidade num veículo "grande" um dos primeiro atos do seu governo. Simbólico. Para desgosto dos "pequenos". Estendeu a mão, mas não adiantou: ela continuou apanhando.
A minha avaliação é a mesma de antes, embora o crescimento eleitoral do candidato tucano tenha me surpreendido, em função da sua fragilidade, da influência declinante da "grande" imprensa e dos resultados eleitorais anteriores.
Acho que o Brasil é muito melhor hoje do que há 12 anos, que a maioria do povo se beneficia das políticas do governo; não estamos uma situação de crise, ao contrário, vivemos com pleno emprego e aumento do consumo como jamais antes, e nunca vi o povo votar na oposição quando as coisas vão bem.
A única coisa contra esse cenário é a campanha da "grande" contra o governo, diária, ininterrupta há 12 anos. Não fosse o fato de não sermos informados sobre o Brasil real e ao mesmo tempo sermos bombardeados por calúnias e difamações, nossa visão do governo, do país e da nossa vida seria muito melhor do que é.
O que transforma a eleição, aparentemente, numa disputa não entre dois candidatos ou dois projetos político -- o que de fato é, no fim das contas --, mas entre o governo e a "grande" imprensa, entre a realidade e a visão nos fornece a "grande" imprensa, entre a verdade e a calúnia, entre os fatos e o discurso.
Terá a "grande" imprensa esse poder?
O curioso é que, seguindo a lógica adotada pelo PT, de não entrar em confronto com a "grande" imprensa (como fizeram governos de outros países -- Argentina, Equador e Venezuela, por exemplo), a questão não tem solução. Se vencer a eleição, é porque a "grande" imprensa não é tão poderosa mais e a tática estava correta. Se perder, estará fora do poder e não poderá fazer mais nada...
Do Observatório da Imprensa, via jornal GGN.
A imprensa venceu o debate
Por Luciano Martins Costa
No meio do bate-boca em que se transformou o debate eleitoral, os
três jornais de circulação nacional tentam posar de moderadores numa
briga de rua, mas a imprensa hegemônica não pode fugir às suas
responsabilidades. Quem estabeleceu a agenda de baixarias e determinou o
nível rastaquera das discussões políticas no Brasil foram as grandes
empresas de mídia, ao trocar o jornalismo pelo panfletarismo.
O que faz o candidato da oposição, continuamente, é manusear o
material que lhe oferece a imprensa, todos os dias, há anos. O que
decide fazer a candidata à reeleição é manusear o que lhe oferecem as
redes sociais. Nenhum dos dois se sente obrigado a comprovar cada uma
das acusações, porque o contexto midiático há muito deixou de se
preocupar com aquelas qualidades essenciais do jornalismo, como a ética e
o pressuposto da objetividade.
No espaço restrito dos debates com tempo curto para argumentações, e
em meio ao lamaçal criado pela mídia, quem se preocupar com o decoro
perde o jogo.
A íntegra.