sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Os ciclos democráticos e suas interrupções

Ao contrário do que a propaganda neoliberal sugere, eleição não é um ato de consumo.
Votar não é como ir a um xópim escolher uma roupa ou bijuteria, não é como mudar o cabelo: "cansei desse corte, vou experimentar outro, mais moderno".
Eleger presidente, governador, prefeito é uma escolha que tem consequências profundas e duradouras nas nossas vidas e não podem ser revertidas facilmente.
Belo Horizonte é o melhor exemplo disso, depois que, em 2008, um acordo político transferiu o governo do PT para o PSB.
O que foi apresentado como uma "continuação" "para melhor" mostrou ser na prática uma ruptura irresponsável e grave, que levou até a queda de viaduto e mortes.
Durante os últimos anos, o governo municipal afastou o povo das decisões, liquidou organismos de participação e decisão, trocou funcionários competentes e honestos por outros, terceirizou atividades importantes, ocupou-se dos interesses dos ricos e da minoria, em detrimento dos pobres e da maioria.
Tudo funciona pior do que antes, tudo voltou a ser pior para a maioria. 
O mesmo desmonte nós veremos no governo federal.
Desmonte da máquina governamental, substituição de pessoas experientes e competentes, interrupção do que funciona.
Vai-se liquidar, enfraquecer ou paralisar programas sociais, afastar a participação popular, privilegiar a elite.
Virão em consequência cortes de gastos, demissões, desemprego, piora em todos os serviços públicos.
O mais grave será a mudança na Petrobrás e no pré-sal, provavelmente privatizados.
Tudo para atender os interesses dos banqueiros, das multinacionais, dos fazendeiros, dos grandes empresários.
E tudo acompanhado de intensa propaganda de que está sendo feito o melhor para o povo.
Quando tudo estiver pior, virá o discurso do sacrifício necessário para ultrapassar um período difícil herdado do governo anterior, mas necessário para entrarmos num novo período de crescimento.
Os gastos com propaganda oficial serão multiplicados.
A "grande" imprensa será apoiada com polpudas verbas públicas e ajudará com entusiasmo a fazer a propaganda do governo.
Não vai adiantar, porque tudo estará pior e o povo sentirá isso, apesar da propaganda e da imprensa dizendo que tudo está melhor.
Mas os pobres estarão mais pobres e os ricos, mais ricos.
E então haverá nova eleição, e a maioria, como fez de outras vezes, votará na oposição.
Depois de quatro anos -- oito? -- ruins, o passado parecerá muito melhor, talvez pareça mesmo "anos dourados", como pareceram depois os anos JK.
E tudo que foi feito nos últimos doze anos e terá sido destruído precisará recomeçar.
Democraticamente, por decisão da maioria.
Há outras possibilidades, uma melhor -- a continuidade, na eleição do próximo dia 26 (como aconteceu por vontade popular em 2006 e 2010 e também em 1955) -- e outra pior -- o golpe, quando a derrota eleitoral for iminente, em 2018 (2022?).