Mais do que artistas globais que podem não servir de referência política, o movimento Gota D'Água ganha credibilidade ao citar os movimentos Xingu Vivo Para Sempre e Humanos Direitos. O Humanos Direitos usa a mesma estratégia de vídeos com celebridades em campanhas de defesa da vida e dos direitos humanos. Suas primeiras reuniões datam de 2003. Outorga anualmente o Prêmio João Canuto -- homenagem ao sindicalista assassinado no Pará em 1985 -- a pessoas e instituições que se destacam na defesa dos direitos humanos. O Xingu Vivo apresenta-se como "um coletivo de organizações e movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se opuseram à sua instalação no Rio Xingu". Ele informa contar com o apoio de "mais de 250 organizações locais, estaduais, nacionais e internacionais", e agregar "entidades representativas de ribeirinhos, pescadores, trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, moradores de Altamira, atingidos por barragens, movimentos de mulheres e organizações religiosas e ecumênicas". Uma lista tão grande não deve deixar nenhuma organização séria de fora, e realmente fazem parte dela grupos da região tão diversos como: Prelazia do Xingu, movimentos de mulheres, pastorais, rádios comunitárias, sindicatos de trabalhadores, associações de moradores, associações profissionais, Fórum Regional de Direitos Humanos Dorothy Stang, associações de povos indígenas e associações de ribeirinhos, entre outras. Não há informação de data de constituição do movimento, mas as postagens mais antigas do saite datam de outubro de 2010. O Histórico do saite contém uma cronologia da hidrelétrica desde 1975, quando, durante a ditadura militar, a recém-criada Eletronorte começa a estudar a exploração do potencial hídrico da Amazônia para produção de eletricidade, gerando desde conflito com indígenas, ribeirinhos e ambientalistas. Vale a pena lê-lo para entender como o projeto atravessa todos os governos, sem ser executado, mas também sem ser abandonado, até ser incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com o qual o governo Lula retoma o desenvolvimentismo iniciado por JK e continuado pela ditadura militar. Se Belo Monte não foi feita até hoje é não apenas pelas reações sociais que provocou mas também por incompetência e falta de recursos dos últimos governos miltares e dos governos civis de Sarney, Collor e FHC. O projeto faz parte de todos os planos nacionais de desenvolvimento, porque a "matriz energética" brasileira depende da hidreletricidade e o potencial que resta a ser explorado no País está na Amazônia. Isto significa que a construção de hidrelétricas amazônicas (Belo Monte é apenas uma da série) é uma questão profunda, que mexe não só com o modelo de desenvolvimento nacional, mas com o próprio capitalismo, que depende de crescimento contínuo e exploração de todos os recursos naturais. Ou seja, não há como crescer, não há como continuar a expansão capitalista sem construir hidrelétricas na Amazônia e, portanto, afetar o ambiente e as populações locais. Posicionar-se contra Belo Monte vai além do discurso falacioso do "desenvolvimento sustentável", é defender uma mudança de paradigma econômico, em que o ambiente passa a ser a principal referência. As celebridades globais que se aliam ao que há de mais reacionário no País (Globo, Veja e demotucanos) vão assumir esta bandeira?
Contra Belo Monte! Pelo decrescimento!