Universitários dão o exemplo para a sociedade: precisamos de outras polícias que não as formadas pela ditadura militar e que continuam intactas. As funções das polícias militares são reprimir manifestações populares e invadir favelas -- agora campi universitários também. Ineficiência no combate ao crime e corrupção fazem parte da sua rotina. Acadêmicos de cabeça branca e barrigudos, que no passado foram estudantes e também protestaram, deviam se envergonhar de agora fazerem o discurso da "segurança no campus" e da "reintegração de posse". Deviam se juntar aos seus alunos para completar a obra de derrubada da ditadura militar de 1964-1985 que não terminamos. A justiça brasileira continua tendo dois pesos e duas medidas: os alunos da USP tiveram de pagar fiança de quase R$ 40 mil para serem soltos, assim como os professores mineiros em greve até o mês passado, mas o governador Anastasia, que não paga o piso salarial legal dos professores, continua livre, sem sofrer qualquer sanção.
Estudantes da USP entram em greve e recebem apoio de entidades
Vivian Fernandes
Após a ação da Tropa de Choque da Polícia Militar (PM) contra os estudantes que ocupavam a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), na madrugada da última terça-feira (8/11), os universitários realizaram pela noite uma assembleia com cerca de 3 mil pessoas. Na ocasião, eles decidiram pela greve estudantil, para exigir a saída da PM do campus e pela construção democrática de outro projeto de segurança para a USP. De acordo com o estudante de história e membro do Diretório Central dos Estudantes da USP Vinícius Moraes da Cunha, a assembleia teve um importante papel de unificação do movimento estudantil. "A PM no campus não traz segurança, pelo contrário, traz abusos de autoridade e outros tipos de problema. Além de reafirmar um desejo de que os estudantes que se mobilizaram para ocupar a reitoria não devem ser punidos. Afinal de contas, eles não são criminosos, muito pelo contrário, eles estavam tentando se fazer escutar em relação a uma decisão que deveria ser tomada com pelo menos uma parte expressiva da comunidade". A retirada dos processos e punições contra estudantes por motivos políticos é outra decisão da assembleia. Além dos 73 presos na ocupação, outros alunos e servidores estão sendo processados devido à atuação política. Diversas entidades manifestaram repúdio à ação da PM contra os estudantes, como o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, o DCE e o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp e a Associação dos Professores da PUC-SP. A ocupação da reitoria teve início no dia 2 de novembro. Antes, os estudantes haviam ocupado o prédio da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Alunos detidos na reintegração de posse da Reitoria são liberados
por Mayara Teixeira
Os estudantes presos durante a operação de reintegração de posse do prédio da Reitoria da USP foram liberados na madrugada de ontem depois de passaram o dia na 91ª Delegacia de Polícia, zona oeste de São Paulo. Segundo o delegado Dejair Rodrigues, foram 73 alunos presos, 63 estavam dentro do prédio e 10 foram detidos do lado de fora por desacato. A Polícia contabilizou 24 mulheres e 49 homens. De manhã, a PM apresentou à imprensa os materiais encontrados dentro da ocupação. Entre eles estavam 7 coquetéis molotov, um galão de gasolina e 6 caixas de fogos de artifício. Segundo a coronel Maria Yamamoto, não houve resistência ou reação violenta por parte dos alunos durante a reintegração. Todos foram autuados em flagrante e serão indiciados por desobediência a ordem judicial e dano ao patrimônio. O diretor do Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp), Marcelo Pablito, afirmou que nenhum membro da comissão de negociação foi chamado para acompanhar a vistoria da polícia no prédio da Reitoria e que entre os 73 presos, estavam quatro funcionários da Universidade. "Uma delas é, inclusive, diretora do Sindicato", disse. Os estudantes foram submetidos a um interrogatório padrão de 12 questões, mas todos se recusaram a prestar informações, reservando-se ao direito de só falar em juízo. O valor total pago foi de R$ 39.240, um salário mínimo (R$ 545) por pessoa. A quantia foi arrecadada com sindicatos, entidades e movimentos sociais. Do lado de fora da delegacia, alunos e funcionários protestaram contra a polícia. A Companhia de Engenharia e Tráfego (CET) teve que bloquear uma faixa e meia da Avenida Doutor Gastão Vidigal. O protesto começou às 10h dentro do campus da Cidade Universitária e em marcha os alunos foram até a 91ªDP. A mãe de uma das estudantes detidas foi presa durante a tarde por supostamente ter desacatado um policial militar. Um grupo de pais entregou uma nota oficial para uma repórter da Folha de S. Paulo. (na qual) repudiam a incapacidade da USP em negociar com os alunos, a ponto de recorrer ao uso da força. "Nossos filhos não são bandidos, são estudantes, não estão defendendo o uso de drogas, mas uma gestão democrática dentro da Universidade." Às 14h, foi divulgada uma nota oficial dos alunos presos. Disponibilizada no blog "Ocupa USP Contra a Repressão", a nota dos estudantes responsabiliza o reitor João Grandino Rodas e o governador Geraldo Alckmin pela repressão do movimento. "Reafirmamos nossa luta contra a polícia, dentro e fora da universidade, que reprime a população pobre e trabalhadora todos os dias", diz o comunicado. De volta ao campus, cerca de 2 mil estudantes reuniram-se em assembléia geral que votou pela greve estudantil imediata. Os estudantes desejam que o convênio entre a Universidade e a Secretaria de Segurança seja cancelado, que a PM seja retirada do campus e que os processos administrativos contra estudantes e funcionários sejam anulados. Ainda nessa semana, professores e funcionários realizarão assembleias para decidir se vão aderir à greve ou não.