quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Google: Ecce homo!

Resenha de vários livros recentes publicada na New York Review of Books e traduzida pelo blog Vi o mundo em partes mostra o que é o Google e seu poder sobre nós. É fantástico como ele apura a nossa busca enquanto ainda estamos digitando (faz isso com o dispositivo Google Instant). É também assustador como conhece todos os nossos movimentos na web. Uma coisa está ligada à outra. Da mesma forma como a web está se transformando no cérebro mundial, o Google é a parte principal deste cérebro. O negócio do Google é publicidade: ele recebe mais com publicidade do que todos os jornais dos Estados Unidos juntos.

Como o Google nos domina
Primeira parte
James Gleick

Alain de Botton, filósofo, escritor e agora aforista online, escreve no Twitter: "A conclusão lógica de nossa relação com computadores: buscar 'qual é o sentido da minha vida' no Google, esperando por uma resposta." Você pode fazer isso, é claro. Escrever "o que é" e mais rápido do que você consiga digitar "um" ou "uma", o Google está oferecendo uma série de escolhas para você: o que é uma nuvem? o que é um significado? o que é um sonho americano? O que é um illuminati? O Google está tentando ler sua mente. Só que não é sua mente. É o Cérebro do Mundo. E seja lá o que ele for, sabemos que uma empresa de doze anos de idade, com sede em Mountain View, Califórnia, está conectada a ele como ninguém.O Google é o lugar aonde vamos para encontrar respostas. Antes, as pessoas buscavam por elas de outra maneira ou, mais provavelmente, conformavam-se em não saber. Hoje em dia, você não pode ter uma discussão na mesa de jantar sobre "que atriz ganhou o Oscar interpretando uma atriz que não ganhava o Oscar no filme do Neil Simon", porque a qualquer momento alguém vai puxar um dispositivo de bolso e fazer uma busca no Google (1).

Como o Google nos domina
Segunda parte
James Gleick
Tradução de Pedro Germano Leal

Os fundadores do Google, Larry e Sergey, fizeram tudo do seu próprio jeito. Mesmo na cultura informal do Vale do Silício, eles se destacaram desde o início como algo original, como "crianças de Montessori" (segundo Levy), despreocupadas com as normas e propriedades, que preferiam grandes bolas de ginástica vermelhas em lugar de cadeiras de escritório, desprezando organogramas e títulos formais, indo de patins para reuniões de negócio. Fica claro em todos esses livros [aqui examinados] que eles acreditavam em sua excentricidade; eles acreditavam com fervor moral na primazia e poder da informação. (Sergey e Larry não inventaram o famoso lema da empresa, "não seja malvado", mas eles o abraçaram, e agora eles podem muito bem ser donos dele.) Como eles notaram em primeira mão, sua missão não abrangia apenas a Internet, mas todos os livros e imagens do mundo, também. Quando o Google criou um serviço gratuito de e-mail – o Gmail – seus concorrentes eram Microsoft, que oferecia aos usuários dois megabytes de armazenamento em seu antigo e atual e-mail; e Yahoo, que oferecia quatro megabytes. Google poderia ter coberto essas ofertas oferecendo seis ou oito; ao invés disso, eles ofereceram mil – um gigabyte. Eles dobraram este valor um ano mais tarde e prometeram "continuar dando mais espaço às pessoas, para sempre." Eles têm sido incansáveis ​​no avanço da ciência da computação. O Google Tradutor avançou mais no campo da tradução eletrônica do que todos os especialistas em inteligência artificial do mundo juntos. O novo dispositivo, chamado Google Instant (que se adianta ao que está sendo digitado, como se lesse a mente do usuário), já fez com que "até agora os nossos usuários economizassem mais de 100 bilhões de toques no teclado, e este número continua aumentando". (Se você está procurando informações sobre o "deserto de Gobi", por exemplo , você recebe resultados bem antes de você terminar de digitar a palavra "Gobi"). Em algum momento ao longo de sua história, o Google deu às pessoas a impressão de que não se importava com publicidade – que mal tinha um plano de negócios. Na verdade, é claro que a propaganda sempre foi fundamental para seus planos. No entanto, eles desdenhavam o marketing convencional: sua atitude parecia ser a de que o Google iria vender a si mesmo. Como, aliás, o fez. Google se tornou um verbo e um meme. (2) "A mídia tomou o Google como o marco de uma nova forma de comportamento", escreve Levy.

Como o Google nos domina
Terceira parte
James Gleick
Tradução de Pedro Germano Leal

O negócio do Google não é pesquisa, mas publicidade. Mais de 96 por cento de seus 29 bilhões de dólares em receita no ano passado vieram diretamente de publicidade, e a maior parte do resto veio de serviços relacionados a publicidade. O Google recebe mais com publicidade do que todos os jornais do país [Estados Unidos] juntos. Vale a pena entender como isso funciona. Levy relata o desenvolvimento dessa máquina de publicidade: uma "fantástica conquista na construção de uma máquina de fazer dinheiro através de truques virtuais (8), a partir da Internet." Em The Googlization of Everything (and Why Should Worry), livro que pode ser lido como uma referência sóbria e admonitória, Siva Vaidhyanathan, um estudioso da mídia na Universidade da Virginia, coloca a questão da seguinte maneira: "Nós não somos clientes do Google: nós somos o seu produto. Nós, nossas fantasias, fetiches, predileções e preferências, somos o que o Google vende para os anunciantes." A evolução desta incomparável máquina de fazer dinheiro produziu uma rápida sequência de inovações brilhantes: 1. No início de 2000, o Google vendeu "premium sponsored links": anúncios de texto simples associados a certos termos de pesquisa. Uma fornecedora de bolas de golfe poderia ter seu anúncio mostrado a todos que buscassem por "golfe" ou, melhor ainda, "bolas de golfe." Outros mecanismos de busca na internet já faziam isso. Seguindo a tradição, eles cobravam de acordo com o número de pessoas que viam cada anúncio. Os anúncios eram vendidos para grandes clientes, um a um. 2. Mais tarde, naquele ano, engenheiros desenvolveram um sistema de auto-atendimento, chamado AdWords. O ponta-pé inicial foi: "Você tem 5 minutos e um cartão de crédito? Obtenha seu anúncio no Google hoje", e de repente milhares de pequenas empresas estavam comprando seus primeiros anúncios na internet.