O texto foi tirado do ar depois que virou notícia na internet e a Secretaria, em nota, agradeceu a vigilância da imprensa -- vigilância que ela mesma não teve. De qualquer forma, mostra que no governo paulista tem gente que defende a ditadura militar. Não é mesmo de estranhar, uma vez que os tucanos são aliados do DEM -- que já foi PFL, que já foi PDS, que já foi Arena, o partido do governo durante os governos militares. Os tucanos, em geral, vieram do MDB, o que não quer dizer grande coisa, porque o MDB também ajudou a sustentar a ditadura (dizia-se, na época, que um era "o partido do sim" e o outro, "o partido do sim, Senhor"), mas pelo menos abrigava também a oposição tolerada e recebia os votos populares de insatisfação com o regime. O PSDB, quando foi fundado, se pretendia um partido de esquerda -- esquerda moderada, esquerda social-democrata, mas esquerda. Quando implantou o neoliberalismo no Brasil deu a guinada para a direita, uma vez que essa era a política econômica da direita internacional, mas ainda assim alimentava ilusões de ser um partido de "centro-esquerda". Essa virada para a direita, que abraça até o golpe militar de 64 e faz uma revisão da sua própria história (afinal, FHC e Serra foram cassados pela ditadura), é coisa recente, que apareceu na oposição ao governo Lula, que ocupou o lugar que caberia ao próprio PSDB, a tal "centro-esquerda". Talvez o PSDB tenha decidido seguir a recomendação daquela pesquisadora americana e assumir que é um partido de direita. No entanto, ao defender o golpe de 64 vai além, porque passa de uma direita democrática a uma direita golpista. Será que os tucanos vão defender agora a conquista do poder pelo golpe, uma vez que já perderam três eleições e nada indica que vencerão a próxima? Espera-se que não, mas o uso cada vez mais frequente e violento da força policial pelo governo paulista, combinado com a revelação de que há nela gente que defende a ditadura militar, é preocupante para a democracia.
Do Comunique-se.
Golpe Militar de 1964 é definido como "revolução" em saite de secretaria de SP
Anderson Scardoelli
"Revolução de março". Foi desta forma que o saite da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) classificou o ato que deu início à Ditadura Militar no Brasil, em 1964. De acordo com a página oficial, o principal triunfo da ação foi combater a "política sindicalista" de João Goulart, que foi deposto do cargo de presidente da República. Na página, a renúncia do então presidente foi lembrada, além de afirmar que o golpe era de interesse do povo. "Revolução de março – Em 25 de agosto de 1951, o presidente Jânio da Silva Quadros renunciou a seu mandato. Em 31 de março de 1964 iniciou-se a Revolução, que desencadeada para combater a política sindicalista de João Goulart. Força Pública e Guarda Civil puseram-se solidárias às autoridades e ao povo", descreve toda a mensagem publicada na seção 'Histórico' da Polícia Militar paulista. A informação contida no site da SSP não foi a primeira menção benéfica ao golpe de 1964 divulgada pelo órgão. O blog 'Radar Político', do Estadão.com.br, relembrou que o portal da secretaria já tinha publicado que a Rota também tinha se orgulhado de participar da "revolução", ajudando as Forças Armadas e a sociedade.
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