Que as privatizações do governo FHC foram péssimos negócios para o Brasil, isso era fato sabido e reconhecido até por algum tucano mais lúcido. O jornalista Aloysio Biondi não se cansou de demonstrar isso, no tempo mesmo em que o programa deletério do presidente doutor era levado a cabo -- só não viu quem não quis. O que o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., A privataria tucana, faz é revelar que por traz dos prejuízos ao País e benefícios a grandes empresários, havia também uma roubalheira organizada para enriquecer lideranças tucanas. Enquanto as privatizações aconteciam, o ex-ministro José Serra, sua filha, seu genro, seu primo e seus amigos enriqueceram lavando milhões em paraísos fiscais do Caribe, dinheiro que voltava ao Brasil como "investimentos" em empresas "camaleões" e se transformava em apartamentos, edifícios, fazendas, veículos e outros bens.
Também isto era de se esperar, pois não há negócios no Brasil sem corrupção. A dúvida sempre é: até onde ela vai? Envolve o ministro ou secretário? Chega ao presidente, governador ou prefeito? Quantos juízes, desembargadores e ministros são honestos? Quantos deputados, senadores e vereadores? O caso de corrupção em questão é pontual ou sistemática? O livro do Amaury, de qualquer forma, nos espanta ao mostrar quanto a corrupção atinge todo os poderes em todos os níveis. Nenhum prefeito, governador ou presidente é capaz de impedir a corrupção, embora possa diminuí-la, contê-la, puni-la.
Nesse sentido, a presidente Dilma saiu-se bem no primeiro ano do seu governo com sua política de afastar ministros sob suspeita, ainda que as denúncias sejam orquestradas pela velha imprensa protofascista e não sejam consistentes. Exceto pelo caso Pimentel. As explicações para os pagamentos recebidos da Fiemg (R$ 1 milhão) e de uma empreiteira (R$ 500 mil) pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior não se sustentam e se a presidente insiste em manter Pimentel em nome da amizade que os une põe em risco a credibilidade do seu governo.
Na verdade, corrupção não é a questão principal, considerando a universalidade da sua prática entre nós. A questão principal é para quem se governa. Lula e agora Dilma inauguraram uma nova fase na história do Brasil em que, paralelamente a se governar para os ricos, governa-se também para os pobres -- com políticas sociais, aumento do salário mínimo, distribuição de renda. É isso que diferencia os governos petistas dos governos tucanos e antecessores.
A corrupção faz parte do sistema capitalista, cujo valor máximo é ganhar dinheiro, lucrar, ter mais. Dos meios lícitos passa-se aos ilícitos -- ou imorais -- facilmente. Obviamente, entre os governos de direita a corrupção não apenas é prática, mas é também normal, porque raramente eles têm ética -- empresários estão acostumados a corromper e políticos de direita estão acostumados a ser corrompidos. É de governos de esquerda que se esperam probidade e exemplo.
Só por interesses não confessados como os da velha imprensa protofascista pode-se exigir que o governo federal esteja imune à corrupção, mas é razoável esperar que não permaneçam nele políticos cujas práticas e ligações não podem ser explicadas.