Do blog Luís Nassif Online
O interesse público na mudança do comando da Globo
Por Jotavê -- comentário aos post Mudanças na diretoria da Globo
O que falta ao PT para enfrentar personagens realmente grandes, como a Rede Globo? Falta ser um partido grande, que dê sustentação efetiva e mais ou menos independente ao Executivo e seja capaz de matar no nascedouro as tentativas de golpe via impeachment. Lula pôs a governabilidade acima de tudo. (...) o partido como um todo ainda é fraco, e é isso que torna inviável a elaboração de leis que democratizem efetivamente o exercício da liberdade de opinião, fazendo com que a vitrine de uma emissora do porte da Rede Globo esteja realmente acessível a diferentes correntes de pensamento, e não continue sendo aquilo que ela é hoje -- um mero instrumento de manipulação ideológica das massas.
A imprensa se vê, hoje, como um quarto poder, e exerce esse poder em toda a sua extensão, relacionando-se com os outros três levando em conta os seus interesses no jogo, e nada mais. Demóstenes Torres e José Roberto Arruda só eram "confiáveis" aos olhos da revista Veja porque estavam associados ao mesmo bicheiro ao qual ela própria se associou. Pertenciam, digamos assim, ao mesmo organograma. A revista sabia que poderia detonar qualquer um dos dois quando bem entendesse, e por isso os apoiava e lutava para que chegassem à Presidência da República. Não os apoiava "apesar" de saber que tinham ligações com o crime organizado. Apoiava-os exatamente por isso: por serem "confiáveis", por poderem ser destruídos a qualquer tempo.
A não ser por isso -- por ter se tornado, em função dos próprios deslizes, num fantoche facilmente manipulável -- nenhum político é confiável aos olhos de uma Rede Globo, de uma revista Veja, ou de uma Folha de São Paulo. Todos eles podem ser aliados ocasionais, mas continuam sendo sempre inimigos potenciais.
A primeira providência que tomam, assim que um novo governante sobe ao poder, é fragilizá-lo com uma chuva de denúncias reais ou fabricadas, acuando-o, fazendo-o ficar à mercê de sua boa vontade. Foi o que fizeram com Fernando Henrique Cardoso (se quem me lê não se lembra disso, a culpa não é minha -- consultem os arquivos), foi o que fizeram (em dose dupla) com Lula, é o que estão fazendo (ora mais, ora menos) com Dilma, e é o que farão com qualquer um que tenha a caneta o Poder Executivo em suas mãos.
O PSDB esgotou-se enquanto partido da social-democracia brasileira. Hoje, o partido capaz de levar adiante essa bandeira é o PT. Enquanto não tivermos um partido forte, é impensável imaginar um enfrentamento de uma máquina ideológica do porte da Rede Globo. Esse é o dado básico que deveria ser levado em conta na hora de sabotar candidaturas locais em nome de associações nacionais.
A troca de comando, anunciada ontem na Rede Globo tinha um formato nitidamente stalinista. Imagino que uma reforma ministerial era anunciada pelo rádio na URSS dos anos 30 da mesma forma, no mesmo tom neutro, impositivo, projetado contra do pano de fundo de um poder incontrastável, envolto na sonoridade solene de um sobrenome quase mítico - "Stalin" para eles, "Marinho" para nós. Sem eliminar esse stalinismo vigente na mídia brasileira, não existe a menor esperança de construirmos uma democracia que não se resuma a um simples jogo formal de apertar um botãozinho numa urna eletrônica a cada quatro anos.
A íntegra.