domingo, 7 de julho de 2013

Google, Facebook, Apple e a espionagem americana

O sujeito mais procurado pelo governo dos EUA revelou como CIA usa Google, Facebook, Apple etc. para espionar. Analista militar famoso por revelar os "papéis do Pentágono", na década de 1970, diz que democracia escorregou para o abismo. Eles não são esquerdistas nem inimigos dos EUA, são americanos e gente de dentro do sistema. A coisa é mesmo feia.

Do Outras Palavras. 
Ignácio Ramonet: "Somos todos vigiados"  
Que é a mega-rede global de espionagem montada pelos EUA. Como os cidadãos são monitorados. Por que a denúncia de Edward Snowden é um fato histórico 
Por Ignácio Ramonet, tradução de Cauê Ameni.

Nós já temíamos (1). Tanto a literatura de (1984, de George Orwell), como o cinema (Minority Report, de Steven Spielberg) haviam avisado: com o progresso da tecnologia da comunicação, todos acabaríamos sendo vigiados. Presumimos que essa violação de nossa privacidade seria exercida por um Estado neototalitário. Aí nos equivocamos. Porque as revelações inéditas do ex-agente Edward Snowden sobre a vigilância orwelliana acusam diretamente os Estados Unidos, país considerado como "pátria da liberdade".
Aparentemente, desde a promulgação, em 2001, da lei Patriot Act (2), isso ficou no passado. O próprio presidente Barack Obama acaba de admitir: "Não se pode ter 100% de segurança e 100% de privacidade". Bem-vindos, portanto a era do "Grande Irmão"…
O que revelou Snowden? Este antigo assistente técnico da CIA, de 29 anos, que trabalhava para uma empresa privada – a Booz Allen Hamilton (3) – subcontratada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, sua sigla em inglês), vazou para os jornais The Guardian e Washington Post, a existência de programas secretos que tornam o governo dos Estados Unidos capaz de vigiar a comunicação de milhões de cidadãos.
Um primeiro programa entrou em operação em 2006. Consiste em espiar todas as chamadas telefônicas feitas pela companhia Verizon, dentro dos Estados Unidos, e as que se fazem de lá ao exterior.
Outro programa, chamado Prism, foi posto em marcha em 2008. Coleta todos os dados enviados, pela internet (e-mails, fotos, vídeos, chats, redes sociais, cartões de crédito), por (a princípio…) estrangeiros que moram fora do território norte-americano.
Ambos os programas foram aprovados em segredo pelo Congresso norte-americano, que teria sido, segundo Barack Obama, "constantemente informado" sobre seu desenvolvimento.
A íntegra. 

Rumo a um neo-totalitarismo?
Espionagem militar maciça dos EUA apoia-se na cumplicidade das corporações da internet e numa safra de filmes pró-guerra. Felizmente, agora sabemos de tudo   
Por John Pilger, do New Statesman, tradução Resistir.Info e Cauê Ameni.

No seu livro, Propaganda, publicado em 1928, Edward Bernays escreveu: "A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo ocultos da sociedade constituem um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país".
Bernays, o sobrinho norte-americano de Sigmund Freud, inventou a expressão "relações públicas" como um eufemismo para propaganda de Estado. Ele lembrou, porém, que os que dizem a verdade, e um público esclarecido, são uma ameaça permanente ao governo invisível.
Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os documentos do governo estadunidense conhecidos como The Pentagon Papers. Revelou que a invasão do Vietnã fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos depois, o senador Frank Church dirigiu audiências extraordinárias no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da democracia americana. Estas puseram a nu a plena extensão do governo invisível: a espionagem e subversão internas e a provocação de guerra pelas agências de inteligência e "segurança", bem como o apoio que recebiam das grandes corporações e das mídias, tanto conservadores como liberais.
Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA), Church afirmou: "Sei que a capacidade que há para instaurar uma tirania na América. Devemos assegurar que esta agência, e todas as que possuem esta tecnologia [de espionagem] operem dentro da lei… de modo que nunca cruzemos esse abismo. Trata-se do abismo do qual não há retorno".
Em 11 de junho de 2013, após as revelações feitas por Edward Snowden (um ex-contratado da CIA e NSA), e publicadas por The Guardian, Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora escorregaram para "aquele abismo".
A revelação de Snowden, de que Washington usou a Google, Facebook, Apple e outros gigantes da tecnologia para espionar quase toda a internet, é uma nova evidência da forma moderna de fascismo – esse é o "abismo". Depois de alimentar regimes autoritários por todo o mundo – desde a América Latina à África e à Indonésia – o gene cresceu em casa. Entender isto é tão importante quanto entender o abuso criminoso da tecnologia.
A íntegra.