Que coisa mais mesquinha esse combate ao programa Mais Médicos. Os médicos brasileiros não são contra a vinda de médicos europeus, mas são contra a vinda de médicos cubanos. Como se os médicos formados na ilha pobre, que sobrevive ao cruel embargo do gigante rico americano há cinquenta anos, fossem guerrilheiros comunistas infiltrados para solapar as sólidas instituições democráticas brasileiras. Tacham-nos preconceituosamente de despreparados, quando são mundialmente reconhecidos como os melhores clínicos do planeta.
Enquanto isso, reportagem flagra médicos que batem o ponto em hospital público e vão embora. Não é novidade: há mais de 23 anos, o ex-ministro da Saúde Alceni Guerra fez uma visita de surpresa a um posto de saúde no Bairro do Horto, em Belo Horizonte, pediu a escala dos médicos e fez uma chamada; de uns vinte, apareceram cinco, para constrangimento do chefe, que ficou tentando explicar as ausências. Comentário do ministro (a reportagem foi publicada no Jornal do Brasil em 5 de maio de 1990): "Esta é a doença sistêmica".
Isso não significa que todos os médicos são assim; na medicina, da mesma forma que na polícia (e no jornalismo), há os maus e os bons (acho que estes são a maioria), e há ainda a instituição, que pode incentivar más práticas ou boas. Se a instituição favorece práticas ruins, é preciso mudá-la, assim como os bons médicos não podem proteger os maus e assumir posições corporativistas em detrimento da saúde pública e dos interesses coletivos.
E o fato é que faltam médicos.
Essa impressionante mobilização dos médicos brasileiros -- por que não se mobilizam assim pela saúde pública? -- está escrevendo uma das páginas mais negras da história da medicina, repleta de corporativismo, preconceito, ignorância e até ameaças.
Da Página do MST.
"Medicina cubana ensina a atender o povo com qualidade e humanismo", afirma militante
Por José Coutinho Júnior
A Página do MST conversou com Augusto César e Andreia Campigotto, ambos militantes do Movimento e formados em medicina em Cuba. Nascido em Chapecó e com 25 anos de vida, Augusto César ainda não exerce a profissão. Está estudando para fazer a prova de revalidação do diploma cubano e, assim, poder atuar no Brasil. Quando conseguir seu registro, pretende trabalhar na área rural, atendendo os Sem Terra e os assentados da Reforma Agrária.
Andreia Campigotto tem 28 anos e nasceu em Nova Ronda Alta (RS). Trabalha em Cajazeiras, no sertão paraibano, como residente em medicina da família em uma unidade básica de saúde, que atende uma comunidade de 4 mil pessoas.
O curso de medicina cubano dura seis anos. Para estudantes de outros países, ele se inicia na Escola Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana. Depois de um período inicial de dois anos, os estudantes são enviados para as diversas universidades do país. Augusto e Andreia foram para a universidade da província de Camagüey.
O curso de medicina cubano não difere muito do brasileiro, do ponto de vista curricular. "Os dois primeiros anos trabalham com as ciências médicas. Estudamos fisiologia humana, anatomia humana e desde o primeiro ano temos contato com os postos de saúde. Quando somos distribuídos para as universidades, vivenciamos o sistema público de saúde. Comparado com o Brasil, o nível teórico é igual, mas o nível de prática é maior", afirma Augusto.
"Um estudo do governo federal mostra a compatibilidade curricular dos cursos de medicina de 90% entre Brasil e Cuba. Então, não há grandes diferenças teóricas", conta Andreia.
A íntegra.