Haddad pertence a uma nova geração de petistas, não a geração dos filhos, que foi às ruas, mas uma geração intermediária. Ele tem em São Paulo o papel que Patrus teria em Belo Horizonte, caso tivesse vencido a eleição de 2012: liderar a renovação do PT, tirá-lo do centro em que se meteu, refém da direita, amigo dos capitalistas mais que dos trabalhadores que o fundaram e são seus donos, aproximá-lo outra vez das suas bases populares e abri-lo para os jovens que não viveram a ditadura nem lutaram contra ela, viveram em outro mundo e o veem de outra forma. São Paulo tem importância capital, todos sabemos, e Haddad pode ser o Lula de um PT renovado. Obteve uma vitória épica nas urnas, intimidou-se no cenário de direita, acovardou-se diante das primeiras manifestações, mas depois pareceu compreender a nova conjuntura e suas possibilidades. Qualidades já demonstrou ter. As ruas lhe ofereceram as bandeiras e o apoio para avançar. Apoio indispensável, porque o outro lado -- empresários gananciosos, elites neofascistas, imprensa reacionária e políticos conservadores -- é contra e vai fazer de tudo para sabotar mudanças que melhorem a vida da população.
Da Agência Carta Maior.
São Paulo: o impensável tornou-se obrigatório
Saul Leblon
O júbilo conservador que sepultou o mandato do prefeito Fernando Haddad nos protestos de junho talvez tenha cometido o erro de colocar o uivo à frente do discernimento.
A exemplo de todo o universo político brasileiro, o prefeito subestimou o alcance da insatisfação contida em 20 centavos de um reajuste que resistiu em revogar.
Paradoxalmente, a grandeza revelada nas ruas, antes de afrontar talvez tenha adicionado o impulso que faltava à identidade de esquerda da nova gestão.
A franqueza obriga a dizer claramente: Haddad precisa refundar seu governo.
A boa notícia é que ele tem tempo para isso e, sobretudo, as circunstâncias agora favorecem sua extração histórica.
O recomeço involuntário encerra um espaço de coerência política de que antes não dispunha.
Outra boa notícia é que Haddad já está sacando o bônus propiciado pelas ruas.
Entre o carro e o ônibus o prefeito não precisa mais incluir reticências na escolha.
Antes que a poeira baixasse, suspendeu a maior licitação de linhas de ônibus da cidade.
Planeja rediscutir as bases dos contratos com uma cidadania organizada, devidamente informada pela abertura da caixa-preta das empresas.
Na sequência, lançou o maior corredor de ônibus da história de SP.
Quase simultaneamente, suspendeu o gasto com a construção do túnel projetado pelo antecessor, idealizado para encurtar a rota dos automóveis ao litoral.
Quanto mais rápido reordenar diretrizes estruturais, mais consistente será o seu renascimento.
E mais surpreendente pode vir a ser a progressão de seu mandato.
Não só.
A íntegra.