segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O que ficou do primeiro turno, o que esperamos do segundo

O morto está vivo, mas Dilma ganhou confiança.
Eleição parece futebol. Time que se fecha na retranca porque está ganhando costuma levar a virada. Às vezes se aguenta com mais um zagueiro, quatro volantes... No fim, a estratégia certa é a da vitória: se ficar na retranca e perder, fica óbvio que tinha de continuar atacando, mas se continuar atacando e perder em contra-ataques, é porque estava errado, devia ter tomado precauções.
Para o torcida, entretanto, o time inesquecível é o que joga bonito, mesmo que perca, como a Seleção de 82.
Ou como Luciana Genro e Eduardo Jorge. Ou Dilma, quando partiu para o ataque.
O que todos os seus eleitores querem no segundo turno é ver Dilma no ataque.
Seu time é melhor do que o do Aécio, que está confiante, mas tem inúmeros pontos fracos. A bem da verdade, a única virtude do Aécio é mesmo a autoconfiança, que entusiasma seus seguidores sedentos de um líder de direita.
Os eleitores de Dilma querem vê-la no ataque, jogando bonito, para se entusiasmarem e a empurrarem para a vitória, torcendo, gritando, cantando, agitando bandeiras, lotando o estádio. 

Do Diário do Centro do Mundo.  
8 coisas que não esqueceremos desta campanha 
Por Paulo Nogueira

1) A presença exuberante e renovadora de Luciana Genro
Com seu sotaque gaúcho, com suas melenas encaracoladas e com sua sinceridade desconcertante, ela dinamizou o debate político ao trazer à cena temas como a criminalização da homofobia, a legalização do aborto e a regulação da mídia.
Em um de seus momentos supremos, mandou que Aécio baixasse o dedo esticado para ela no debate da Globo. Aécio obedeceu.

 2) Os memes de Eduardo Jorge
Os internautas fizeram uma festa com frases e fotos de Eduardo Jorge depois do primeiro debate entre os candidatos, na Band.
"Finalmente descobri o que é meme", escreveu Eduardo Jorge em sua conta divertida e concorrida no Twitter.
Logo as pessoas descobririam que EJ não é apenas folclórico. É um homem de conteúdo, e o mais capacitado defensor de uma economia ambientalmente saudável.
Mas não se limitou ao meio ambiente. Foi ele que informou vigorosamente aos brasileiros que 800 000 mulheres são criminalizadas anualmente no país por conta de uma anacrônica legislação de aborto.
Ao lado de Luciana Genro, virou uma estrela entre os jovens que sonham com um Brasil melhor.

5) A Marinamania
Marina chegou bombando, em substituição a Eduardo Campos. A cada pesquisa subia, e por alguns dias pareceu a franca favorita para a vitória.
Mas havia em seu caminho Silas Malafaia. Quatro tuítes de Malafaia, pode-se dizer hoje, destruíram a Marinamania.
Neles, Malafaia ameaçava tirar o apoio de Marina caso fosse mantido o texto pró-comunidade LGBT de seu programa.
Marina piscou. Começou ali seu declínio. Ficou fácil, para os adversários, colarem nela a marca de uma pessoa hesitante e errática.

6) A ressurreição de Aécio
No auge da Marinamania, Aécio virou coadjuvante, espremido entre Dilma e Marina. Aliados já começavam a flertar com Marina, e a plateias no exterior FHC reconhecia que as coisas estavam realmente feias para seu candidato.
Só uma pessoa parecia acreditar em Aécio: o próprio Aécio.
Graças a essa fé cega em si mesmo, e também por conta das vacilações em série de Marina, Aécio chegou ao 5 de outubro com reais chances de ir para o segundo turno.
O morto estava vivo.

8) O ganho de confiança de Dilma
Nas primeiras sabatinas, Dilma pareceu frequentemente tropeçar nas palavras e no tempo de resposta.
Mas depois foi se afirmando e acabou a campanha muito melhor do que começou.
Numa passagem memorável, perguntou a um jornalista do Globo — que pedia que falasse menos – quem, afinal, estava sendo entrevistado.
Foi notável, também, a maneira engenhosa como ela virou a seu favor o debate sobre corrupção.
Antes, no governo FHC, um “engavetador” geral da República tratava de colocar as denúncias na gaveta. Agora, elas são investigadas.
Da defesa, ela saiu para o ataque – e mudou a natureza do debate no país sobre a corrupção, uma arma sempre usada cinicamente pela direita contra governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.
A íntegra.